Artigos, animações virtuais, poesias, etc...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pérolas da educação


Enquanto isso, nas escolas do Brasil profundo (onde eu sou professor)...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

"Meu professor inesquecível"

Extraído do site E.EDUCACIONAL

"Eu tive três grandes professores. Um foi o Mário Henrique Simonsen, que era excepcional. O segundo excepcional professor que eu tive foi o Amartya Sen, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia há alguns anos. O terceiro foi um romeno radicado nos EUA chamado Nicolas Georgescu-Roegen, que quase ganha o Prêmio Nobel. E esse foi disparado o melhor. Ele, diante das novas teorias pedagógicas, seria massacrado, porque ele era um homem brutal, tratava seus alunos da forma mais cruel possível, com as melhores intenções. E era um professor que, quanto melhor o aluno, pior ele tratava. Era um professor que se dedicava a fundo aos seus melhores alunos e, apesar de ter uma boa alma, torturava-os para que produzissem mais e mais e mais. Ele também foi uma pessoa que me deu grandes lições, de não ficar com muitas coisas na superfície, mas de voltar às idéias fundamentais. Logo que eu cheguei à faculdade para fazer o doutorado, ele me viu na biblioteca com um monte de livros. Ele passou por mim, olhou os livros um por um e disse (fala caprichando no sotaque): 'Mr. Castro, o senhor lê demais e entende de menos. O senhor precisa ler menos e entender mais.' E essa foi uma das grandes lições: foco, concentração, entender profundamente algumas poucas idéias e não fingir que entende um número colossal delas. E para mim, fruto do ensino brasileiro, que é o ensino de fingir que entende tudo, essa foi a grande lição: aprender pouco, mas bem."

Cláudio de Moura e Castro

* Cláudio de Moura e Castro é economista, escritor, mestre em Educação, Ph.D em Economia (Universidade de Vanderbild), possui mais de 30 livros publicados e é articulista da revista Veja.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

EM CAMBURI


Tirada do outro lado da rua

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comentários aos comentários sobre minha resposta ao manifesto de M. Chauí e P. Singer

Algumas considerações:

1) Concordo em que é necessário sim dialogar com Irã, Venezuela, Cuba & Cia, mas acredito que Lula foi um pouco além do simples diálogo. Seus comentários a respeito dos protesto dos iranianos contra a eleição provavelmente forjada do... (não sei escrever aquele nome terrível, rs)... do líder iraniano, a respeito da greve de fome dos presos políticos cubanos, seu silêncio quanto ao fechamento de redes de tv e jornais na Venezuela... Tudo isso faz com que se possa suspeitar da concepção de democracia do PT

2) Discordo do seu relativismo quanto à definição de democracia. Se por um lado é preciso reconhecer os entraves às liberdades, em geral, onde quer que elas existam ou deixem de existir, por outro é preciso estipular parâmetros e definir quem se aproxima e quem se distancia deles. Os EUA deixam a desejar em vários aspectos nesse sentido sim, mas comparados aos outros citados aqui, podemos dizer que internamente são sim democráticos. Eleições (+) transparentes, separação igreja/estado, liberdade de crítica, mobilidade social (ascensão das minorias, Barack Obama negro), igualdade entre os gêneros, alternância no poder, etc. Seu ponto fraco é o apoio a regimes autoritários e ditaduras nos quatro cantos do mundo, de acordo com seus próprios interesses. Isso, no meu entender, precisa ser analisado, porém, primeiro na ótica da guerra fria. Segundo, pela geopolítica internacional. O apoio às democracias precisa ser a tônica geral dos países. Se os outros também titubeiam nessa defesa (o Brasil, inclusive), os EUA não podem ser os únicos responsabilizados. E digamos que eles, por outro lado, também dão grande incentivo às democracias nascentes, o caso da Nação Palestina, por exemplo, que elegeu o Hamas e, mesmo assim, continua contando com o apoio dos EUA para a criação do estado palestino.

3) Quanto ao Brasil ter se saído bem na crise, concordo quanto à importância do mercado interno. Ele não seria suficiente pra conter o desemprego e a recessão, porém, caso fôssemos exportadores de tecnologia. Acompanho os debates na Globonews, GNT, e pude constatar que essa posição não é só da 'The Economist". Como já citei, endossam essa análise o Carlos Alberto Sardenberg, O Ricardo Amorin & Cia.

4) Eu vi sim Serra tocar na questão dos cargos de comissão. E numa rápida pesquisa no Google encontrei esses links aqui dando destaque ao tema, inclusive um que critica Serra justamente por tentar promover meritocracia na carreira do magistério. Dê uma olhada: http://www.google.com.br/search?sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=meritocracia+Serra

5) Sobre conrole das mídias, acredito que a melhor forma de controle é a quebra de monopólios no setor e o incentivo a novos canais de comunicação (jornais, revistas, rádio, televisão), mas nunca monitoramento. Salvaguardado o direito de todos os setores de criarem seus próprios veículos, a regulação do setor deverá caber aos leitores. Eles é que darão sua credibilidade ou não aos fornecedores de notícias.

Abs

Alexandre

Resposta ao Manifesto de Marilena Chauí e Paul Singer

Antes de tudo, acho que é preciso hierarquizar os valores. Se Paul Singer e Marilena procuram arrumar a casa nesse mar de informações desencontradas, Soninha Francine, Arnaldo Jabor, Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr, Capovilla e outros tantos tem feito o mesmo do outro lado. Vamos também nós tentar arrumar a casa:

a) Penso que a democracia rivaliza com a justiça social em prioridade. Isto porque é justamente através da democracia que as massas podem, ao longo de sua evolução, manifestar seus anseios sociais. Exemplo disso é o Lula no poder, só possível graças à observância dos princípios democráticos por nossas instituições. Se a miséria põe a democracia em risco, a concentração excessiva de poder também o faz. É preciso um equilíbrio entre a luta por justiça social e o processo permanente de descentralização de poderes que caracteriza a democracia.

b) Muitos movimentos sociais, no mundo inteiro, se caracterizaram por atacar as injustiças sociais - num primeiro momento - concentrando poderes para poder fazer isso mais velozmente (URRS, Leste Europeu, Vietnã, Coréia do Norte, China, Cuba, etc). O problema é que, passado o período de exceção, mantiveram o poder centralizado, gerando assim outras formas de injustiça: a ascensão da classe dos burocratas, com regalias equiparáveis às que antes auferiam a monarquia, a burguesia, etc. Também se caracterizaram pelo cerceamento da liberdade de expressão, com o aprisionamento dos dissidentes. Pelo cerceamento da liberdade de ir e vir, etc. Nas democracias ocidentais essas exceções à democracia aconteceram somente por breves períodos, como por exemplo no macarthismo (USA). Passada a crise, tudo voltou ao normal. Mesmo no Brasil foi assim. Nos países citados mais acima, porém, a crise só serviu de pretexto para a passagem de poder de uma classe minoritária a outra igualmente minoritária.

c) Tendo em vista o disposto nos ítens acima, eu creio que devemos nos pautar por políticas que promovam sim justiça social - o que no Brasil atual significa, primordialmente, distribuição de renda e serviços públicos de qualidade - porém com plena liberdade de expressão e descentralização cada vez maior de poderes.

d) Concordo que o PT tenha aprofundado as políticas sociais do PSDB. Isso, no entanto, foi feito em meio a uma avalanche de escândalos postos em banho maria pelo partido, bem como sucessivas tentativas de concentração de poder. Primeiro pelo aparelhamento dos órgãos públicos. Segundo pela concepção errônea, já posta em prática nos chamados conselhos estaduais, de que os órgãos de imprensa devem ser monitorados (ao invés de ser postos à prova por uma política diametralmente oposta a esta: o fomento ao surgimento de novos canais de informação). Terceiro, pelo apoio internacional a governos autoritários, tais como os da Venezuela e do Irã.

e) Considerado o que foi posto acima, eu entendo que o PSDB se aproxima mais desse ponto de equilíbrio por várias razões: Serra apóia políticas meritocráticas não só para o funcionalismo público, como também na educação; Condena veementemente os regimes autoritários da Venezuela e do Irã; Repugna a política de oposição a qualquer custo do PT. Defende o bem-público acima das disputas partidárias; O PSDB tem a seu favor o Plano Real, a lei de responsabilidade fiscal, a criação dos programas de transferência de renda, a ampliação do serviço de telefonia a toda a população, a política acertada dos genéricos, a quebra da patente dos remédios contra a AIDS, a biografia limpa e de participação nos movimentos estudantis de Serra, sua atitude serena diante do discurso truculento dos petistas, sua defesa intransigente das instituições democráticas, a praticidade e objetividade que o permite desideologizar questões importantes em política interna e externa, tais como a natureza de nossa participação no mercosul, nossas relações com a China, USA, etc.

f) Paul Singer, Marilena Chauí e outros tantos intelectuais têm colocado a luta por justiça social à frente da defesa da democracia formal, da democracia representativa. Isto os posiciona ao lado de todos os já citados movimentos de esquerda que centralizaram poder gerando sociedade totalitárias ou autoritárias. Ignoram em seus discursos os exemplos das democracias desenvolvidas, em especial as escandinavas, que promoveram justiça social sem abrir mão da democracia. 

g) Ignoram, em seu discurso, o fato de que não foi só o Brasil que se saiu bem da crise, mas os países exportadores de matérias primas em geral, como bem ressaltou a 'The Economist'. Nos saímos bem não somente pela política econômica petista (na verdade tucana), mas pelo fato de não sermos exportadores de tecnologia. Esse dado também tem sido ressaltado pelos economistas Ricardo Amorin (qualificado ou desqualificado?) e Ricardo Sardenberg (qualificado ou desqualificado?), entre ourtros.

h)Paul Singer e Marilena Chauí, pasmem os ingênuos, também defendem sua condição de professores universitários públicos, beneficiários portanto dos programas de incentivo e fomento da universidade pública (mas em grande parte 'privada') brasileira, que continua premiando setores privilegiados da população com a gratuidade de dispendiosos cursos universitários (pagos pelos mais pobres que não vão à universidade). São beneficiários também do fisiologismo das nossas universidades públicas, fisiologismo que as fazem evocar a 'autonomia universitária' com as mesmas vozes que a defendiam contra a ditadura sem se aperceber que agora não se trata mais de resguardar as liberdades democráticas elementares, porém de simplesmente permitir aos poderes públicos a conferência e fiscalização das suas contas. Justo, não? Como muitos marxistas ensinam, cabe aqui aplicar a Paul Singer, Marilena Chauí & Cia a mesma lógica que eles costumam aplicar somente aos outros.

i) Paul Singer e Marilena Chauí sequer tocam nos pontos importantes das relações internacionais quando afirmam o compromisso do PT com a democracia. Falham aí. Deveria explicar as incríveis contradições do partido nesse campo.

j) Creio que seria se suma importância que os intelectuais partidários do discurso do manifesto, bem como os demais defensores dos atuais gastos com o ensino público, aceitassem de bom grado a transparência na divulgação dos resultados das avaliações externas levadas a cabo tanto no 1º (SARESP, aqui em SP) quanto no segundo (ENEM) e terceiro graus (ENADE). Isso ajudaria sobremaneira ao conjunto da sociedade quanto à tomada de decisões relativas à aplicação do dinheiro público na educação. Ao contrário disso, a USP tem se recusado há vários anos a participar do ENADE (somente agora a UNICAMP aderiu), o MEC não divulga rankings (só divulgados pela imprensa) e os sindicatos qua apoiam o PT boicotam as avaliações, tanto das escolas quanto dos próprios professores, o quanto podem.

Conclusão: considerando principalmente a necessidade de um equilíbrio entre as políticas de transferência de renda com a defesa das instituições democráticas e republicanas, o quanto o passado dos dois candidatos e das duas coligações têm a seu favor nesse quesito, bem como a necessidade imperiosa de sinalizar à sociedade e às novas gerações a minha não anuência em relação ao pouco caso com a desonestidade no trato da coisa pública, quero reafirmar meu apoio a José Serra.

1- Alexandre de Souza Mattos



Data: 26 de outubro de 2010 20:57
Assunto: O manifesto de Chauí e Paul Singer
 
 
26 de outubro de 2010 às 3:00

O manifesto de Chauí e Paul Singer

MANIFESTO AOS BRASILEIROS E BRASILEIRAS

por Marilena Chauí e Paul Singer

Em 31 de outubro deste ano, os brasileiros serão chamados novamente às urnas para decidir os rumos do país pelos próximos quatro anos. A campanha tem se caracterizado por um acirrado duelo de denúncias, calúnias e boatos, que quase não deixou espaço para a discussão dos problemas da nação e as diferentes opções políticas que existem para solucioná-los. Não podemos permitir que o mesmo se repita neste segundo e derradeiro turno, como se a escolha da pessoa que ocupará a Presidência da República dependesse exclusivamente das intenções ostensivas ou ocultas dos candidatos.

Os dois candidatos que disputarão nossos votos são Dilma Roussef e José Serra, que representam as duas coligações partidárias que governaram o Brasil durante os últimos 16 anos, com objetivos e métodos distintos, derivados de interesses e ideologias de classe muito diferentes.

É necessário então explicitar os projetos e se posicionar a partir de uma avaliação das opções que cada uma das coalizões representa, manifestada nas gestões, tanto nacionais como estaduais, que dirigiram.

A coligação que apóia Serra governou durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, e teve por mérito encerrar a violenta crise inflacionária que atingiu o país entre 1979 e 1994 por meio duma política que abriu completamente o mercado interno às importações de produtos industriais, vindas principalmente da Ásia, barateadas pelo baixo custo da mão de obra nos países de origem e pela valorização do real. O custo de vida efetivamente deixou de subir, tirando da miséria no primeiro ano do plano real alguns milhões de brasileiros, mais atingidos pela inflação alta. Contudo, os custos também foram altos. A indústria nacional entrou em terrível crise, que quebrou grande número de empresas e eliminou milhões de postos de trabalho. O desemprego tornou-se de massa, a ponto dos movimentos reivindicatórios dos sindicatos cessarem, com a trágica exceção das greves de protesto contra demissões coletivas.

O custo da estabilização dos preços foi altíssimo e foi pago pela classe operária, na forma de desemprego em massa e duradouro e de persistente queda dos salários, decorrente do excesso de oferta de força de trabalho no mercado. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a economia nacional só cresceu em alguns anos excepcionais; durante os demais a economia ficou em recessão, causada por sucessivas crises financeiras internacionais, de cujos efeitos a política liberal posta em ação foi completamente incapaz de proteger o país.

Durante o governo Lula a política econômica, que foi paulatinamente sendo retirada da camisa de força liberal, fez com que o Brasil crescesse duas vezes mais que durante os quatriênios tucanos. A oposição tucana alega que isso se deve à sorte de Lula de governar numa época em que as crises financeiras foram menos freqüentes. Este argumento foi posto à prova quando estourou a atual crise financeira internacional, em 2008, que é de longe mais extensa e profunda que as crises ocorridas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Como todos sabem, a economia brasileira foi afetada apenas durante dois trimestres graças à vigorosa política anticíclica do governo. Este ano espera-se que a economia brasileira cresça algo como 7%, enquanto a maioria das economias do 1o Mundo ainda estão mergulhadas na crise.

O crescimento econômico havido durante o governo Lula é fruto portanto de opções políticas, que apesar do ponto de vista cambial e monetário não ter se distinguido consideravelmente do período de FHC, no computo geral realizou uma inflexão na política econômica, ampliando o credito, fomentando o mercado interno, recolocando o estado como agente ativo do crescimento, taxando o capital especulativo estrangeiro que entra no país, valorizando o salário mínimo e inclusive desenvolvendo em escala uma serie de políticas sociais, que também tiveram importante impacto do ponto de vista econômico, ao ampliar a demanda efetiva por bens e serviços no mercado interno.

No que diz respeito às políticas sociais, o governo tucano iniciou ou deu continuidade a algumas políticas sociais: a distribuição de auxílios às famílias com renda abaixo dum patamar mínimo e a concessão de crédito subsidiado pelo Pronaf aos pequenos agricultores mais necessitados. Mas estes programas foram executados de forma tão limitada que beneficiaram apenas uma fração dos que deveriam ser atendidos. Quando diferenças de quantidade se tornam muito grandes, geram diferenças de qualidade: no governo FHC as políticas sociais eram marginais e de pouco impacto, mas no governo Lula elas se tornaram prioritárias, ganhando abrangência e desencadeando forte estímulo ao desenvolvimento econômico local.

Em suma, a grande prioridade do governo tucano foi impedir a volta da inflação, o que foi conseguido pelo recurso a medidas recessivas sempre que turbulências financeiras atingiam o Brasil. A outra prioridade deste governo foi reduzir as dimensões do Estado mediante a privatização da indústria siderúrgica, das empresas estatais de produção e distribuição de energia elétrica, de telecomunicações, além da maioria dos bancos públicos. O coroamento deste processo foi a privatização da Vale do Rio do Doce, feita sem qualquer justificativa de interesse público, mas apenas pelo princípio ideológico de que qualquer empreendimento que possa ser operada pela iniciativa privada não deve permanecer em poder do Estado. Apesar da venda de grande parte do patrimônio público, o governo FHC acumulou enorme dívida pública.

O governo do Presidente Lula priorizou desde o seu início a retomada do desenvolvimento com redistribuição da renda. Para atingir estes objetivos, o governo lançou o Programa de Fome Zero, estratégia estruturante de combate à pobreza e distribuição de renda, que, entre outras coisas, tratou de estimular a produção alimentar pela agricultura familiar e propiciar segurança alimentar para o povo brasileiro. Ao mesmo tempo unificou diversos programas de renda mínima, até então fragmentados e localizados, e deu escala, resultando no admirado e internacionalmente imitado Programa de Bolsa Família, que resgatou da fome e da miséria dezenas de milhões de brasileiros e levou pela primeira vez desenvolvimento econômico aos bolsões de pobreza. Mais recentemente, o governo promoveu a criação do Sistema Único de Assistência Social, o SUAS, ampliando a rede de proteção social rumo à universalização da promoção dos direitos para crianças e adolescentes em situação de risco, população de rua e outros segmentos vulneráveis.

No governo Lula, o crescimento econômico não esteve apartado do respeito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o país assumiu o protagonismo na defesa do uso da matriz energética limpa e propondo compromissos internacionais importantes na redução do desmatamento e da emissão dos gases de efeito estufa. Para não falar da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que significará uma nova etapa em termos de sustentabilidade e inclusão social, com o reconhecimento dos catadores de materiais recicláveis alcançando um patamar de dignidade. Isso é respeito ao meio ambiente aliado com o desenvolvimento humano.

Na área da segurança pública, por meio do Ministério da Justiça, que ao fazer a articulação entre a política de segurança e ações preventivas na área social, inaugurou uma nova etapa no combate à violência em nosso país, enfrentando ao mesmo tempo as causas e o crime em si.

A natureza deste manifesto não permite descrever cada uma das muitas políticas sociais realizadas pelo governo petista. Vamos apenas enumerar as mais importantes: a Luz para Todos que atingiu a quase totalidade das famílias dela carentes; o Pronaf, que atuava na prática apenas no Sul do Brasil foi estendido a todo território nacional, resgatando assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos; o salário mínimo foi reajustado sistematicamente acima da inflação, beneficiando milhões de assalariados e aposentados. O programa de Aquisição de Alimentos criou um mercado seguro para os pequenos produtores agrícolas, preferencialmente organizados em cooperativas, e juntamente com o Programa Mais Alimentos e o de Alimentação Escolar arrancou da miséria grande parte do campesinato, a ponto da emigração do campo às cidades ter cessado apesar do desemprego nas metrópoles ter caído à metade nos últimos sete anos.

De fato, o crescimento econômico aliado às políticas ativas de trabalho e emprego fizeram que fossem gerados mais de 14 milhões de postos de trabalho formais nos últimos anos. Além disso, o governo fomentou o trabalho associado em economia solidária, fortaleceu a agricultura familiar e facilitou a formalização de milhares de empreendedores individuais. O resultado tem sido a redução do trabalho informal e desprotegido.

Haveria que mencionar ainda a ampliação notável das redes públicas de escolas do primeiro ao terceiro grau, estimuladas pelo FUNDEB, que ampliou o financiamento público para toda a educação básica, coroada pelo Programa ProUni, que abriu as portas do ensino superior a centenas de milhares de jovens oriundos de famílias de baixa renda e/ou racialmente discriminadas; e a acentuada expansão de escolas técnicas tem a mesma natureza redistributiva.

Além disto, o governo Lula criou novos programas que buscam uma transformação mais profunda da sociedade, criando novos modelos de desenvolvimento e de participação social nas políticas publicas, como por exemplo, as políticas de apoio à economia solidária, os Territórios da Cidadania, as ações de etnodesenvolvimento para as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, todas elas grandes inovações na integração e gestão democrática das políticas públicas.

Para além dos programas, o governo Lula, deu à Secretaria de Direito Humanos da Presidência da República, o status de Ministério, reforçando o compromisso do Governo Federal com os direitos humanos. Os trabalhos desse Ministério, corajosos e bravos, não passaram despercebidos pela sociedade, que tomou conhecimento – se bem que por via distorcida por um certo olhar conservador vindo da grande imprensa – de temas como o direito à memória e à verdade a respeito dos anos fatídicos da Ditadura Militar, a democratização dos meios de comunicação de massa e a ampliação dos direitos de setores excluídos da população.

Outro aspecto que revela quão distintos são os projetos de cada uma das coalizões partidárias em disputa é a forma de encaminhar a participação social no desenvolvimento das políticas públicas. Se no governo de FHC não houve completo esvaziamento dos espaços de exercício da democracia direta, como Conselhos e Conferências, estas práticas ficaram restritas a pouquíssimas temáticas.

Durante o governo Lula se buscou ampliar os espaços de democracia direta e de participação da sociedade civil organizada nas políticas públicas. Foram realizadas dezenas de conferencias nacionais, cobrindo quase todos temas de políticas publicas, da saúde à comunicação, da economia solidaria ao desenvolvimento rural, do meio ambiente à problemática urbana. Estas conferencias elaboraram propostas que se transformaram em políticas públicas, sendo inseridas no Plano Plurianual votado pelo Congresso Nacional. Os Conselhos nacionais, que foram criados ou reavivados pelo governo Lula, tem sido um importante espaço de participação da sociedade civil nos rumos do governo e um importante avanço em direção ao orçamento participativo na esfera federal. Desta maneira, tem se caminhado nos últimos anos para a democratização do estado e mediante a abertura de canais de democracia direta.

Fica claro que os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições representam projetos de país consideravelmente diferentes. São as diferenças destes projetos que devem guiar a decisão de cada eleitor, não os seus supostos ou pretensos méritos individuais. Uma eleição presidencial nada tem de parecido com um concurso para a escolha do indivíduo mais apto para "gerenciar" o país. É a ocasião em que os cidadãos têm a oportunidade, que só a democracia oferece, de escolher pelo voto livre a coligação partidária que lhes parece melhor atender aos interesses e aspirações da maioria.

Para que esta escolha seja consciente é essencial que o 2o turno permita que o projeto de país de cada um dos candidatos seja conhecido, esmiuçado e submetido à critica de todos brasileiros politicamente engajados.

Apesar deste debate de projetos ainda não ter ocorrido, as experiências de cada coalizão que disputa este segundo turno, tanto em âmbito federal, comparando os períodos de FHC e de Lula, como as experiências estaduais, nos fazem crer que o projeto representado pela coalizão encabeçada por Dilma Roussef é aquele que representa a maior possibilidade de transformação do Brasil, com desenvolvimento econômico, redistribuição de renda e ampliação e radicalização da democracia.

É justamente Dilma, que por sua trajetória de luta ao longo da vida e papel central que teve no governo Lula, que representa a garantia de continuidade, consolidação e avanço deste projeto iniciado pelo Presidente Lula.

Para assinar este manifesto, envie seus dados (nome completo e RG) para cultura@pt.org.br, com assunto "Manifesto aos Brasileiros e Brasileiras de Marilena Chauí".

1. Paul Singer
2. Marilena Chauí
3. Paulo de Tarso Vannuchi
4. Giorgio Romano
5. Ricardo Musse
6. Glauco Pereira dos Santos
7. Lea Vidigal Medeiros
8. André Singer
9. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos
10. Walmice Nogueira Galvão
11. Reginaldo Moraes
12. Walter Andrade
13. Fabio Sanchez
14. Roberto Marinho Alvez
15. Maurício Sardá
16. Daniela Metello
17. Antonio Haroldo Mendonça
18. Daniel Puglia, professor (FFLCH – USP)
19. Weber Sutti
20. Gustavo Vidigal
21. Mauricio Dantas
22. Roseli Oliveira





domingo, 24 de outubro de 2010

A Soninha Francine é qualificada? (carta a um amigo petista)

Amigo, como vc me disse que não usa nem vai usar o Twitter, mando o endereço da Soninha Francine (aberto a não usuários), que tem se revelado uma comentarista e pesquisadora arguta das mentiras e contradições da campanha da Dilma: http://twitter.com/SoninhaFrancine . Ela tem corrido atrás dos números e constatado que eles não batem com os ofereceidos pela campanha petista.

Sugiro que vc procure lidar com as informações com o espírito aberto, que não procure 'desqualificar' a Soninha, como fez inclusive com o irmão de fé Paulo Evaristo Arns (que vota no Serra pq já trabalhou com FHC, etc...). Lidar com o fato (fenômeno, em ciências humanas) sem preconceitos tem até um nome em filosofia: fenomenologia. Considerar o fenômeno primeiro em si mesmo para depois analisá-lo cotejando-o com a ideologia (ou teoria), e não o contrário (cujo resultado é sempre a desqualificação do outro porque não se enquadra no seu esquema mental). Ex: Paul Singer quando procura definir 'capitalismo' e 'socialismo' em si mesmos e chega à conclusão que o que os distingue nada mais é que a opção pela descentralização, no caso do primeiro, e pela centralização, no caso do segundo. Resumindo, primeiro a busca da verdade (o que é?), pura e simples, depois a interpretação (por que é?) e opção pelo melhor caminho (por que deve ou não deve ser)

Abs

Alexandre


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Correspondência com um amigo petista

Belo comentário do José Dutra ao ato de agressão contra Serra: “Censuramos esse tipo de ação porque entendemos que não contribui para fortalecimento da democracia.” Ora bolas... não só não contribui como coloca em cheque a própria democracia.

O medo à política petista para as comunicações deve-se muito à adesão manifesta a Chavez, que na Venezuela anda perseguindo sistematicamente os jornais que lhe fazem oposição. Nunca vi nenhum petista se posicionar contra isso.

O discurso solidário de Leonardo Boff contrasta muito com o posicionamento petista em relação à repressão aos manifestantes no Irã, com a anuência à repressão à oposição em Cuba, na Venezuela... Se não podemos cobrar praticidade, pelo menos coerência devemos cobrar das utopias.

Belas palavras de Chico no ato dos intelectuais pró-Dilma. Como sempre, aliás. Concordo com a postura, seja lá de quem for, de falar grosso com os poderosos e fino com os humildes. A questão é que isso não pode estar descolado de princípios éticos gerais. Se o poderoso estiver certo, deve ser aplaudido. Se o humilde estiver errado, criticado. E por que? Porque o humilde de hoje muitas vezes é o poderoso de amanhã. E vice-versa. Impérios se erguem e se esvaem. E não esqueçamos que há muitos exemplos de ditadores que vieram das classes humildes, trabalhadoras. A opção pela humildade não pode ser cega. É uma opção correta no Brasil, uma das piores distribuições de renda do mundo, mas não a qualquer preço.

Sobre o fato de o PSDB não ter negros, ponto para o PT. Os próprios tucanos sabem que a falta de enraizamento com os movimentos e associações populares é seu fraco. O psdb é fraco no nordeste por isso, entre outros. Mas, como já disse (e vc também), precisamos considerar vários aspectos em conjunto, hierarquizar valores (já que há vários em disputa), etc, etc... Creio que poucas demonstrações de preocupação com os menos favorecidos e as minorias todas - inclusive as raciais - poderiam ser mais contundentes que a estabilização da moeda com o plano real, por exemplo. Lembremos que isso tirou dinheiro dos bancos. Lembro que foi a partir do plano real que os bancos passaram a cobrar por serviços simples como saque de dinheiro nos caixas, emissão de talão de cheques, etc. Ou seja, contribuiu para melhorar a distribuição de renda, uma boa maneira de se honrar a dívida histórica com os negros. Essa é a diferença entre a utopia e o realismo. Enquanto a utopia humanista defende um socialismo que nunca existiu, o realismo humanista pratica um capitalismo social. Inclusive com privatizações necessárias, como a da telefonia que abriu as comportas do telefone fácil para todos, ricos e pobres, brancos e negros.

No governo Lula os bancos tiveram lucros recordes. Isso mostra que parte da bonança nesses últimos 8 anos deve ser creditada não apenas ao governo, mas à conjuntura internacional pré-crise. E a crise não deixou de atingir o Brasil apenas por ações e políticas de governo, mas principalmente por conta de sermos exportadores de matérias-prima e commodities. Os países exportadores de tecnologia é que sofreram com a crise.

Discurso de Leonardo Boff e Chico Buarque no ato de intelectuais e artis...

É com dor no coração que desta vez, pela primeira vez, eu e Chico Buarque ficaremos de lados opostos. É certo que tenho a boa companhia de outros ilustres brasileiros, defensores intransigentes da honestidade na política, como Marcelo Tas, Soninha Francine e Fernando Gabeira entre ourtos, mas confesso que estar no lado oposto do 'Anjo Gabriel', como bem alcunhou Leonardo Boff, me traz tristeza no coração. De qualquer forma, há momentos na vida em que é preciso optar pelo realismo ao invés da utopia. Ainda mais quando a utopia principia a tornar-se mentirosa e autoritária.

domingo, 17 de outubro de 2010

Leitores digitais obrigam as editoras a se reinventar

Algumas empresas ainda se mostram receosas com a tecnologia.

Com o surgimento do Kindle, o primeiro leitor digital, o mercado começou a acreditar que ler livros em uma tela poderia se tornar um hábito. A venda de e-books nos EUA cresceu 252% este ano.

domingo, 26 de setembro de 2010

"The Economist" para além da economia...

Muita gente acredita que a superbadalada revista inglesa "The Economist" trata só de economia. O vídeo a seguir mostra que não. Aliás, é só dar uma olhadela na revista pra conferir que a abrangência de assuntos, muito maior que o simples enfoque econômico.

Globo Vídeos - VIDEO - Milênio conversa com o editor-chefe da The Economist:

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Coitado do termômetro

Boas reportagens, amigo (omito o nome dele porque ele não me autorizou a divulgá-lo). Obrigado pelas dicas. Li tudo atentamente e faço alguns comentários breves:

1) A idéia de equilíbrio, que deve estar presente em tudo na vida, também deve permear o uso das novas tecnologias. Desta forma, não se pode culpar a internet pelo uso desequilibrado que muitos fazem e teem feito dela (quem nunca comeu melado...). Isto é o equivalente a culpar o termômetro pela febre.

2) As reportagens mostram, pra mim, mais a necessidade de pais e professores atualizarem-se rapidamente a respeito da internet que a de restringir o acesso a elas para os filhos. Essa segunda alternativa, pra mim, é claramente regressista (embora possa se justificar provisoriamente caso pais e professores não façam a lição de casa e continuem desatualizados e não consigam ajudar seus filhos a lidarem com essa transição necessária)

3) Eu, sinceramente, gostei muito mais do texto (perguntas) do entrevistador da folha (Marcelo Leite?) que das respostas de Nicholas Carr. Pensador por pensador, ainda sou muito mais o próprio Macluhan (que infelizmente não viveu para ver a internet) e Pierre Babin (que preconizam e diagnosticam a passagem da cultura escrita para a cultura do audiovisual), Pierre Levi, Jaques Papert, Lauro de Oliveira Lima e outros tantos defensores da necessidade de se aprender a usar bem as novas tecnologias, cuja penetração em nossas vidas é irreversível. Eles sabem que o termômetro não é responsável pela febre...

4) Quanto à ameaça ao livro pela internet, concordo com a Lilian Wite Fibe, que disse que quem está ameaçado não é o livro, mas a indústria do papel. Ou seja, a idéia de 'livro' não precisa estar associada ao papel. O Kindle e o Ipad simplesmente apresentam uma nova base - não só mais ecológica como mais eficiente - para o texto escrito.

5) Sobre a imensa quantidade de informações da internet e a necessidade de se concentrar em uma coisa só para um aprofundamento nos assuntos, o Marcelo Leite já disse tudo quando citou Gutemberg, a tv e o rock como 'ameaças' do passado às culturas predecessoras (o que se concretizou mais nos aspectos positivos que negativos disso. Ou seja, o custo-benefício foi positivo)

6) Um dos conceitos que mais gosto é o de 'custo-benefício'. Regressistas em geral teem dificuldade em lidar com esse conceito. Posso concluir que Nicholas Carr é um deles por muitos trechos, mas basicamente por esse: "Carr conclui que a internet produz cérebros sob medida para mentes superficiais." Coitado do termômetro!

Alexandre



Enviado em 23 de setembro de 2010 00:11:


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb2009201006.htm
ENTREVISTA NICHOLAS CARR

A internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitáriaJORNALISTA QUESTIONA SE O GOOGLE AFETA A INTELIGÊNCIA HUMANA E RECOMENDA RESTRINGIR O USO DE COMPUTADORES NAS ESCOLAS E EM CASA
O jornalista Nicholas Carr participa de palestra em San Francisco

MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

Nicholas Carr cutucou a onça da internet com um argumento longo e bem-desenvolvido no livro "The Shallows -What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso -O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros" e será lançado no Brasil pela Agir).
Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando burros. O livro já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos. Está sendo traduzido em 15 línguas.
Carr recusa a pecha de alarmista, mas sua preocupação com as "tecnologias de tela" é tanta que ele recomenda a restrição do acesso de alunos à internet nas escolas. Não descarta que a rede possa evoluir para a veiculação de ideias menos superficiais, mas tampouco vê indícios de que irá nessa direção. Leia abaixo trechos da entrevista telefônica dada por Carr da casa de parentes em Evergreen, Colorado, onde se refugiou depois de evacuado por força de incêndios florestais perto de sua casa nas montanhas Rochosas.
Folha - O livro deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento e o Iluminismo. Mas Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais? Ou seria mais preciso dizer que as invenções amplificam e continuam a cultura do passado?
Nicholas Carr - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.
Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e seu livro?
As coisas não mudam de imediato. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.
O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a tal tendência?
Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas.
Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.
As escolas deveriam restringir o uso da internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?
Sim. Nos EUA tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro.
Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.
O sr. consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.
A TV e o rock também já foram acusados no passado de ameaçar os intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas.
Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil à informação até novas ferramentas para autoexpressão.
Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva.
É concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?
Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].
Carr tem um blog, mas não quer saber de TwitterDE SÃO PAULONicholas Carr (1959), estudou literatura no Dartmouth College e na Universidade Harvard. Foi editor da "Harvard Business Review" e colunista do jornal britânico "The Guardian".
Carr mantém um blog, "Rough Type", e tem página pessoal na internet. Fechou, porém, suas contas no Twitter e no Facebook.
Seus três últimos livros atraíram a ira de muitos no setor de TI (tecnologia da informação). No primeiro, "Será que TI é tudo?", afirmava que a importância da informática nas corporações está diminuindo.
No segundo, "A Grande Mudança", tratava da crescente importância da computação "em nuvem", baseada na internet. Em seu "The Shallows", apoia a tese da superficialidade da internet em três pilares que lembram as teses de Marshall McLuhan (1911-1980), mas com sinal trocado.
Primeiro, ele recorre à neurociência para afirmar que o cérebro é "plástico". Não uma estrutura fixa desde o nascimento, mas um emaranhado de conexões que são desfeitas e recompostas ao longo da vida.
Depois, afirma que tecnologias de escrita e leitura modificam a forma de pensar. Fechando o círculo, Carr conclui que a internet produz cérebros sob medida para mentes superficiais.
(ML)http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb2009201001.htm
Navegando e naufragandoAlunos perdem o costume de manusear enciclopédias e ainda sentem dificuldade para encontrar informações de qualidade na internet; é papel da escola, portanto, orientá-los nas pesquisasFotos Carlos Cecconello/Folhapress


Arthur de Oliveira Araujo, 13, procura informações sobre o mesmo assunto na internet

FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO
LUCIANO BOTTINI FILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHAFernando Foster, 49, vende enciclopédias da Barsa há 30 anos. Seu modo de trabalhar quase não mudou e ele continua vendendo tão bem quanto no início da carreira.
A diferença é que agora sempre leva um notebook para as visitas a potenciais clientes. Assim, pode mostrar os atributos não só da edição impressa como da digital -quem compra os livros ganha DVD-Rom e acesso ao conteúdo da internet.
Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, está no 6º ano do colégio Elvira Brandão, na zona sul de São Paulo. Dentre seus cerca de 30 colegas, é o único que sabe o que é uma enciclopédia, mesmo que não a utilize com frequência.
Com um mundo de informações a apenas um clique, muitos alunos não aprendem a pesquisar em livros, o que preocupa as escolas.
"Não é preciso evitar a internet, mas o estudante deve entender a diferença [entre o material impresso e o que está disponível na rede]", diz Jorge Cauz, presidente da Encyclopaedia Britannica. Diferentemente da Barsa, a Britannica concentra 95% das vendas no meio digital.
Antônio Joaquim Severino, professor aposentado da Faculdade de Educação da USP, defende que o manuseio dos livros continua uma via pedagógica insubstituível. "O recurso às fontes eletrônicas é enriquecedor, mas complementar."

AULA DE BIBLIOTECA
Para suprir essa falta de costume de pesquisar em livros, o colégio Santa Maria (zona sul de SP) dá aulas sobre como usar a biblioteca.
"As crianças se assustam quando ouvem as palavras "acervo" ou "lombada'", conta a bibliotecária Marilúcia Bernardi. Os estudantes aprendem a manusear livros, jornais e revistas.
Mas a preocupação com o uso do conteúdo disponível na internet também existe. "Às vezes, o professor pressupõe que o aluno sabe pesquisar, mas tem que ter orientação", diz Miguel Thompson, diretor de marketing e serviços educacionais da Editora Moderna.
A ingenuidade faz com que os estudantes acessem sites inseguros, recorram a conteúdos desatualizados e não saibam a diferença entre informações boas e ruins.
"Os alunos pensam que sites que trazem poucos resultados são péssimos, em comparação com o Google, que traz um milhão de respostas", diz Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da informação e comunicação da Stance Dual (centro).
Quando há casos de plágio ou se os alunos escrevem o que não devem na rede, a escola propõe uma discussão sobre condutas éticas.
No Santo Américo (zona oeste), a saída foi convidar uma empresa de direito eletrônico para conversar com os alunos. "Passar a noção de autoria é um desafio", diz a diretora Elenice Lobo.
Pesquisa na rede é mais rápida, mas não é mais fácilDE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHAPara mostrar as diferenças entre os tipos de pesquisa, a reportagem convidou dois alunos do Elvira Brandão para participar de um desafio.
Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, teve dez minutos para pesquisar sobre o tema comércio informal em livros. O mesmo tempo foi a dado a Arthur de Oliveira Araujo, 13, que buscou informações sobre o assunto na internet.
Na biblioteca, Luiz levou mais de dois minutos até encontrar o volume da enciclopédia que serviria à sua pesquisa. Ao final do quarto minuto, ainda estava no índice.
No décimo, folha de caderno em branco, ele se convenceu: "Se a gente for consultar tudo na enciclopédia, vai perder muito tempo".
Na sala de informática, os dez minutos foram suficientes para que Arthur visitasse cinco sites e escrevesse quatro linhas. No entanto, elas não faziam muito sentido.
"É feita a cobrança muito alta de imposto para não fazer coisas com ele", dizia seu texto, que tentava relacionar o comércio informal à sonegação de impostos.
Segundo a psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner, o conteúdo pesquisado na internet não é tão bem assimilado quanto o lido em uma fonte impressa.
"Existe um descaso em relação à internet. O internauta não se apropria da informação", diz ela.
DICAS PARA OS PAIS

4 passos para evitar o acesso a conteúdos inadequados

1 -DIÁLOGO
Converse comseu filho sobre o que ele acessa na rede e os riscos envolvidos

2 -CONTROLE
Filtros de conteúdo impedem o acesso a páginas proibidas para crianças. Acompanhe sempre o histórico de navegação de seu filho

3 -ESCOLA
Saiba se, na sala de aula, a internet é usada com segurança e se o professor ensina como usá-la

4 -PRESENÇA
O computador deve ficar em um ambiente comum, próximo dos pais. Não deixe a criança usar a internet sozinha, no quarto

Fonte: Rosilei Vilas Boas, coordenadora de Gestão da Informação da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática
DICAS PARA OS ALUNOS

Antes de sair digitando www, pense em cinco perguntas: quem, por que, o que, quando e onde

1- QUEM?
Descubra quem é o autor do site para saber se é uma página pessoal ou de uma instituição. Isso assegura a confiança nos dados. Uma dica é atentar para o tipo de domínio da página(.com, .gov, .edu)

2- POR QUÊ?
Identifique a função da página -diversão, educação ou publicidade, por exemplo. Verifique se o autor não está sendo irônico

3- O QUÊ?
Diferencie os tipos de texto: pode ser uma notícia, um artigo de opinião ou uma pesquisa acadêmica, por exemplo

4- QUANDO?
Tenha cuidado com informações desatualizadas

5- ONDE?
Avalie a origem do conteúdo para saber se as informações valempara o seu país ou a sua cidade

Fonte: Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da escola Stance Dual

sábado, 18 de setembro de 2010

A autocrítica de Pablo Milanés (a respeito da revolução cubana)

Comentários a reportagem da Folha (e ao e-mail de um amigo):

É louvável que Pablo Milanés e outros outrora defensores incondicionais do regime cubano façam a autocrítica, mas ela continua insuficiente e equivocada, como se pode ver no trecho abaixo

"Sempre digo que o país tem que ser reconstruído com os Castro. Porque os Castro foram os responsáveis pelo mau e pelo bom que aconteceu na revolução durante 52 anos.
Eles têm a responsabilidade histórica de garantir que antes e depois de sua morte o país fique em paz consigo mesmo, com todos os que se sacrificaram para manter a revolução, e não com os oportunistas que estão se preparando para vender o país quando morrerem."

Ora, o tipo de ascendência que Pablo Milanés atribui aos irmãos Castro lembra a das monarquias européias. E se ficasse só nisso eu não veria problema algum. A familia real inglesa, e também as do continente (Dinamarca, Noruega e Bélgica - se não me engano - Espanha, etc), continuam exercendo um papel simbólico importante nestes países. As repúblicas em estado puro, França, Brasil, EUA, não parecem ter-se saído tão melhor que as que preservaram as instituições monárquicas. Parece que seus (nossos) heróis não substituíram inteiramente os reis e raínhas na condução moral de seus povos. Mas existe uma grande diferença entre as monarquias contemporâneas européias e as lideranças revolucionárias remanescentes do chamado 'socialismo real' (Cuba e Coréia do Norte): elas exercem um poder puramente simbólico. As sociedades européias souberam dar-lhe o devido papel. Quem decide as coisas, hoje, é o parlamento, o primeiro ministro, o presidente. Reis, raínhas, príncipes e princesas limitam-se às relações públicas, à condução de eventos cerimoniais, discursos e campanhas filantrópicas. Que o mesmo papel seja delegado aos irmãos Castro por aqueles que ainda os têm como líderes autênticos (e que não são, obviamente, os que sofreram persequição política nos últimos 50 anos). Isto ainda seria razoável. Mas defender a permanência dos mesmos no poder... e ainda por cima sem alusão alguma a eleições livres, à necessidade de um sistema pluripartidário, à liberdade de imprensa... isso é insistir num erro que não tem apenas '20 anos', como diz o artista, mas 50 anos!!

Alexandre


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1809201013.htm

Reformas estão 20 anos atrasadas, diz compositor
Para Pablo Milanés, irmãos Castro têm de fazer transição econômica

Ídolo da música cubana afirma que mudanças significam abertura para artistas, mas que ainda são insuficientes

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
As reformas em Cuba deveriam ter começado há 20 anos e os irmãos Fidel e Raúl Castro têm a obrigação de fazer a transição para um novo modelo, a fim de que a ilha não acabe entregue a "oportunistas que se preparam para vender o país quando eles morrerem".
A cobrança é feita pelo cantor e compositor Pablo Milanés, partidário da Revolução Cubana que nos últimos anos tem feito críticas públicas ao regime, incluindo na recente greve de fome de oposicionistas.
Ele deu entrevista num intervalo entre participações no festival de Três Pontas (MG) e no TelefônicaSonidos, que começa no dia 21, em São Paulo.
Morador de Havana, ele deu à filha caçula, de 20 meses, o nome de Rosa Parks -símbolo do movimento contra a segregação racial nos EUA- e continua admirador de Barack Obama.

Folha - A política estava na Nova Trova, como está no regaton e no rap das novas gerações de músicos cubanos. A música é um veículo de debate em Cuba?

Pablo Milanés - Não há um debate aberto [em Cuba]. As expressões musicais se manifestam, não há represálias abertas, mas tampouco uma aceitação do Estado. Há apenas um estado de tolerância.

O Estado controla a difusão?

Controla tudo. Agora, como tem sido noticiado, há medidas para que 500 mil empregados do Estado passem ao serviço privado. Me parece que isso vai gerar muito mais liberdade no exercício do trabalho, incluindo na arte.

As reformas econômicas vão funcionar?

Significam uma abertura, é indubitável. Mas vejo um círculo vicioso no qual as travas que o próprio Estado criou -por meio das proibições à pequena indústria, ao pequeno comércio, ao trabalho por conta própria- criam obstáculos que vão impedir que isso evolua rápido.
Haverá necessidade de matérias-primas, de pequenas fábricas. Será preciso criar uma infraestrutura que o país não tem, e não vejo Orçamento para isso.
Em longo prazo, pode dar certo. Acho que o povo se sacrifica sobretudo quando depende dele próprio.

O que virá após os Castro?

Sempre digo que o país tem que ser reconstruído com os Castro. Porque os Castro foram os responsáveis pelo mau e pelo bom que aconteceu na revolução durante 52 anos.
Eles têm a responsabilidade histórica de garantir que antes e depois de sua morte o país fique em paz consigo mesmo, com todos os que se sacrificaram para manter a revolução, e não com os oportunistas que estão se preparando para vender o país quando morrerem.
Têm que se preparar para deixar um país digno, que possa recuperar o que foi perdido pelos erros cometidos nestes anos.

O senhor disse que era preciso uma nova revolução. É possível?

Falo em insuflar um talento novo, que existe. Mas tem que ser buscado sem preconceitos, não apenas em gente dentro do poder, mas sim nos jovens que estão em toda parte e dispostos a fazer uma gestão saudável, em função do socialismo, mas com novas ideias.

Incomoda o sr. que a saída para a libertação de opositores presos tenha sido o exílio?

Claro que sim. Gostaria que fosse desenvolvido um meio para que se possa divergir do governo. Desde que caiu a União Soviética, há 20 anos, minhas ideias para Cuba são muito críticas.
O país não podia manter o modelo socialista ortodoxo. Tinha que partir para um nacionalismo econômico, cultural e industrial, depender do próprio esforço.
Temos 20 anos de atraso em dar ao povo a possibilidade de se desenvolver pelos próprios meios. Se todos tivessem tido a liberdade e a possibilidade de se manifestar, teria sido outra coisa.

Como vê as recentes declarações de Fidel e sua recuperação?

Me parece extraordinário. E não acho que seja um homem afastado do poder, que seja apenas, como ele disse, uma testemunha. Fidel ainda é o primeiro secretário do Partido [Comunista]. Portanto, Fidel permanece no poder absoluto.

O americano Barack Obama foi uma decepção para você?

Não. Obama é um negro que chegou ao poder nos EUA e parece que lhe fizeram uma armadilha, para enfrentar tudo que Bush deixou: um sistema capitalista destruído, um país destruído, e quase o mundo inteiro destruído. Foi a herança que Obama recebeu.

domingo, 29 de agosto de 2010

Deu nisso... Resposta a um amigo sobre e-mail referente às próximas eleições

Os investimentos que o PT faz hoje em educação são consequência do processo de democratização, globalização (que exige mão-de-obra qualificada), e também da estabilização da moeda iniciada pelo plano real de FHC, ao qual o PT fez enérgica oposição (lembro de ter ido com vc ao diretório do Mercadante/Gushiken logo após a implantação do plano, e do discurso raivoso de Mercadante contra o mesmo). Não é justo que só o PT leve os louros disso. Aliás, é desonesto. São uma consequência, também, do controle fiscal gerado pela lei de responsabilidade fiscal, à qual o PT também fez oposição (a 'mea culpa' tardia do Palocci não ajuda muito pra desculpar o partido por essa mancada). O PROUNI, sem dúvida, é um grande projeto. As PPP's (o PROUNI é uma PPP, não é?) também, se não me engano, foram sempre defendidas pelo PSDB (enquanto o PT defendia uma postura agressiva anti ensino particular). Ainda bem que o PT mudou de idéia.

Sobre os investimentos nas federais, USP, Unicamp, tenho defendido já há algum tempo que o custo/benefício dos altos investimentos no 3ºgrau público no Brasil (comparados aos feitos no ensino fundamental) não é positivo. Ao contrário do que vc diz, aqui a classe média alta também têm clara vantagem. Você, eu e outras raras e honrosas exceções só confirmamos a regra. A grande maioria dos que entram nos cursos mais disputados (medicina, engenharia, etc) nas federais, USP e Unicamp são da classe média, média alta. Para o modelo brasileiro (que não é nem capitalista nem socialista: oscila entre o estatismo e o liberalismo de forma bipolar), eu defendo o sistema norte-americano: universidades em sua maioria particulares, mas com generosas quotas de bolsas para alunos carentes mas esforçados. Ou seja, eu defendo que a universidade pública aprenda a competir com a universidade particular dentro de parâmetros que forneçam à sociedade ampla contrapartida na forma de pesquisas de interesse nacional e formação de profissionais realmente conhecedores dos problemas básicos do país (embora tema que a universidade pública imploda se esses compromissos forem mesmo cobrados, assim como a transparência nas suas contas). Ao mesmo tempo, a maciça ampliação de programas como o PROUNI. PPP's para a educação.

Repito, as públicas não têm feito valer o investimento feito nelas. A sociedade ganharia mais estendendo o PROUNI a todas as particulares e regulamentando e obrigando todas a investirem em pesquisa (coisa que hoje é monopólio das públicas). Se vc me mostrar algum caminho pra seguirmos o modelo social-democrata escandinavo eu mudo de posição. Aliás, A Finlândia (da chamada 'Grande Escandinávia'), primeiro lugar nas avaliações internacionais do PISA, investe se não me engano mais no ensino fundamental que no universitário (embora eu precise confirmar esse dado). Lá o professor primário ganha mais que o profesor universitário.

Ainda sobre as universidades públicas... vc deve saber da recusa da Unicamp e da USP em aderirem ao ENADE. Agora parece que a Unicamp aderiu, depois de vários anos de recusa, deixando a USP com a batata quente de ser a única de fora da avaliação externa capitaneada pelo próprio PT (seguindo os passos do antigo provão, criado pelo PSDB). Por que é que vc acha que a USP não quer aderir ao ENADE? Só vejo uma explicação pra isso: ela se tornou um antro corporativista. Acostumou-se ao dinheiro público fácil sem a contrapartida de um retorno à sociedade (vide a última ou penúltima greve, que teve como principal reivindicação a não-vistoria das contas da universidade pelo governo, como se a USP fosse uma república independente...). E, falando pela FEUSP, te digo que o jornalismo especializado em educação da VEJA (Claudio Moura Castro, Monica Weinberg, Gustavo Ioshpe...) e Folha (Gilberto Dimenstein) entende muito mais da escola pública que meus ex-professores. Se pudesse voltar no tempo e trocar de professores, eu o faria. Digo isso agora que conheço de carteirinha a escola pública e todas as suas mazelas neofeudais, corporativistas, nepotistas e antidemocráticas (nunca denunciadas pela FEUSP). A barra aqui no meu município é pesadíssima, e a FEUSP não me ajudou nada a antever o que me esperava. Se tivesse acompanhado mais a imprensa especializada e menos a academia desde aquela época, teria me preparado melhor. Aliás, o meu município apresenta os melhores salários e as piores notas do litoral norte (pra calar a boca dos que acham que só a melhoria dos salários resolve).

Por fim, temo que o PT crie obstáculos à implantação da meritocracia em nossas escolas (embora o Hadad esteja fazendo uma boa administração e, como vc diz e eu reconheço, esteja incrementando mecanismos de fomento da meritocracia nas escolas via ENEM, IDEB, etc... dando também sequência aos programas anteriores do PSDB). Ora, o PT nunca equacionou corretamente a dialética competição/cooperação para a sociedade como um todo, o que não se dirá na educação (segundo Carl Rodgers, a instituição mais burocratizada de nosso tempo). Digo isso porque os sindicatos dos professores (que historicamente têm grande influência nos programas petistas de educação) têm sido os principais opositores das políticas de avaliação do professorado (seja pela prova escrita ou pelos resultados dos alunos), sendo ostensivamente contrários a qualquer ameaça à isonomia salarial. Ou seja, defendem o aumento indiscriminado para toda classe sem a contrapartida da melhoria dos resultados. Não sei como o Hadad e Cia petista vão implementar e incrementar o reconhecimento e premiação do mérito (ao invés de punição do demérito) se os sindicatos que lhes dão apoio são contra. E eu não consigo ver futuro num plano de carreira que não premie o bom professor, aquele que de fato demonstra a qualidade do seu trabalho através dos resultados dos seus alunos nas avaliações externas. Aliás, a título de curiosidade, escrevi sobre isso há tempos atrás no fórum da revista VEJA sobre meritocracia na educação. Meu comentário foi escolhido pela Monica Weinberg entre outras mil e tantos, rs ( http://veja.abril.com.br/40anos/educacao/conclusao.shtml )

Por fim, agora quanto à política internacional, se por um lado apóio a perspectiva de um fortalecimento dos laços Sul-Sul, e a solidariedade brasileira com o processo de democratização social da Bolívia (por exemplo), eu deplorei a atuação brasileira no caso Zelaya, em Honduras, a aliança com Chaves, o apoio ao líder Iraniano (que nega o holocausto), os comentários de Lula com relação à greve de fome dos prisioneiros políticos cubanos, etc, etc, etc... Quanto à nossa inserção na América do Sul, aliás, vejo a posição de Serra como mais coerente: enquanto nossos vizinhos sul-americanos não se entendem ou pensam que se entendem quando acatam a idéia de uma 'frente bolivariana' autocrática (que de Simão Bolívar não tem nada, como já foi observado por mais de um cientista político), nós não podemos nos prejudicar abrindo mão do mercado americano e europeu (pelas exigências de negociação conjunta do Mercosul), ainda por cima com a China ganhando mercados nas nossas barbas...

PS: Volto atrás em muito do que escrevi atrás de vc me convencer de um caminho seguro para a social democracia escandinava, como já disse. O melhor lugar do mundo, hoje, se chama Dinamarca (e seus vizinhos Noruega, Suécia, Finlândia e, um pouco mais distante, a Islândia, não ficam muito atrás). Lá o estado é forte, o imposto de renda é de mais de 50%, mas tudo isso retorna em serviço público de altíssima qualidade. Assim sim... Mas como chegar até lá se a nossa esquerda nem reconhece o modelo escandinavo como uma referência. Esse seria o primeiro passo pra atualizarmos nosso projeto de país para uma alternativa ao modelo liberal, por um lado, e ao socialismo não-democrático, de outro. Acho que o modelo escandinavo é muito pra cabeça da nossa esquerda, acostumada à análise marxista da transformação das bases econômicas como uma prévia para a mudança cultural. Lá parece que as coisas aconteceram ou ao contrário, ou ao mesmo tempo. Cultura e economia. Marx parece ter relegado a cultura a um terceiro plano. Errou. E nossa esquerda acho que nunca se acostumará com a idéia de que socialismo não se cria por decreto, mas com uma ampla transformação cultural (embora isso leve muito mais tempo. Séculos). Sem isso, a corrupção, a promiscuidade entre o público e o privado, não podem ser debelados. E o estado não pode justificar seu tamanho. Em tempo: consta que Gorbachev admitiu que a Suécia se aproximou muito mais do ideal soviético de uma sociedade sem classes que a própria extinta URSS. O curioso é que estamos escrevendo esse tempo todo sobre dois partidos supostamente social-democratas (embora o PT nunca tenha aberto mão da bandeira socialista, na prática atua de forma social-democrata). Mas como fazer pra mudar a cultura brasileira de sempre 'levar vantagem em tudo' às custas do que deveria ser de todos?

Gande abraço!

Alexandre
 
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