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domingo, 26 de setembro de 2010

"The Economist" para além da economia...

Muita gente acredita que a superbadalada revista inglesa "The Economist" trata só de economia. O vídeo a seguir mostra que não. Aliás, é só dar uma olhadela na revista pra conferir que a abrangência de assuntos, muito maior que o simples enfoque econômico.

Globo Vídeos - VIDEO - Milênio conversa com o editor-chefe da The Economist:

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Coitado do termômetro

Boas reportagens, amigo (omito o nome dele porque ele não me autorizou a divulgá-lo). Obrigado pelas dicas. Li tudo atentamente e faço alguns comentários breves:

1) A idéia de equilíbrio, que deve estar presente em tudo na vida, também deve permear o uso das novas tecnologias. Desta forma, não se pode culpar a internet pelo uso desequilibrado que muitos fazem e teem feito dela (quem nunca comeu melado...). Isto é o equivalente a culpar o termômetro pela febre.

2) As reportagens mostram, pra mim, mais a necessidade de pais e professores atualizarem-se rapidamente a respeito da internet que a de restringir o acesso a elas para os filhos. Essa segunda alternativa, pra mim, é claramente regressista (embora possa se justificar provisoriamente caso pais e professores não façam a lição de casa e continuem desatualizados e não consigam ajudar seus filhos a lidarem com essa transição necessária)

3) Eu, sinceramente, gostei muito mais do texto (perguntas) do entrevistador da folha (Marcelo Leite?) que das respostas de Nicholas Carr. Pensador por pensador, ainda sou muito mais o próprio Macluhan (que infelizmente não viveu para ver a internet) e Pierre Babin (que preconizam e diagnosticam a passagem da cultura escrita para a cultura do audiovisual), Pierre Levi, Jaques Papert, Lauro de Oliveira Lima e outros tantos defensores da necessidade de se aprender a usar bem as novas tecnologias, cuja penetração em nossas vidas é irreversível. Eles sabem que o termômetro não é responsável pela febre...

4) Quanto à ameaça ao livro pela internet, concordo com a Lilian Wite Fibe, que disse que quem está ameaçado não é o livro, mas a indústria do papel. Ou seja, a idéia de 'livro' não precisa estar associada ao papel. O Kindle e o Ipad simplesmente apresentam uma nova base - não só mais ecológica como mais eficiente - para o texto escrito.

5) Sobre a imensa quantidade de informações da internet e a necessidade de se concentrar em uma coisa só para um aprofundamento nos assuntos, o Marcelo Leite já disse tudo quando citou Gutemberg, a tv e o rock como 'ameaças' do passado às culturas predecessoras (o que se concretizou mais nos aspectos positivos que negativos disso. Ou seja, o custo-benefício foi positivo)

6) Um dos conceitos que mais gosto é o de 'custo-benefício'. Regressistas em geral teem dificuldade em lidar com esse conceito. Posso concluir que Nicholas Carr é um deles por muitos trechos, mas basicamente por esse: "Carr conclui que a internet produz cérebros sob medida para mentes superficiais." Coitado do termômetro!

Alexandre



Enviado em 23 de setembro de 2010 00:11:


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb2009201006.htm
ENTREVISTA NICHOLAS CARR

A internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitáriaJORNALISTA QUESTIONA SE O GOOGLE AFETA A INTELIGÊNCIA HUMANA E RECOMENDA RESTRINGIR O USO DE COMPUTADORES NAS ESCOLAS E EM CASA
O jornalista Nicholas Carr participa de palestra em San Francisco

MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

Nicholas Carr cutucou a onça da internet com um argumento longo e bem-desenvolvido no livro "The Shallows -What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso -O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros" e será lançado no Brasil pela Agir).
Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando burros. O livro já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos. Está sendo traduzido em 15 línguas.
Carr recusa a pecha de alarmista, mas sua preocupação com as "tecnologias de tela" é tanta que ele recomenda a restrição do acesso de alunos à internet nas escolas. Não descarta que a rede possa evoluir para a veiculação de ideias menos superficiais, mas tampouco vê indícios de que irá nessa direção. Leia abaixo trechos da entrevista telefônica dada por Carr da casa de parentes em Evergreen, Colorado, onde se refugiou depois de evacuado por força de incêndios florestais perto de sua casa nas montanhas Rochosas.
Folha - O livro deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento e o Iluminismo. Mas Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais? Ou seria mais preciso dizer que as invenções amplificam e continuam a cultura do passado?
Nicholas Carr - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.
Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e seu livro?
As coisas não mudam de imediato. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.
O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a tal tendência?
Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas.
Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.
As escolas deveriam restringir o uso da internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?
Sim. Nos EUA tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro.
Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.
O sr. consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.
A TV e o rock também já foram acusados no passado de ameaçar os intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas.
Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil à informação até novas ferramentas para autoexpressão.
Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva.
É concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?
Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].
Carr tem um blog, mas não quer saber de TwitterDE SÃO PAULONicholas Carr (1959), estudou literatura no Dartmouth College e na Universidade Harvard. Foi editor da "Harvard Business Review" e colunista do jornal britânico "The Guardian".
Carr mantém um blog, "Rough Type", e tem página pessoal na internet. Fechou, porém, suas contas no Twitter e no Facebook.
Seus três últimos livros atraíram a ira de muitos no setor de TI (tecnologia da informação). No primeiro, "Será que TI é tudo?", afirmava que a importância da informática nas corporações está diminuindo.
No segundo, "A Grande Mudança", tratava da crescente importância da computação "em nuvem", baseada na internet. Em seu "The Shallows", apoia a tese da superficialidade da internet em três pilares que lembram as teses de Marshall McLuhan (1911-1980), mas com sinal trocado.
Primeiro, ele recorre à neurociência para afirmar que o cérebro é "plástico". Não uma estrutura fixa desde o nascimento, mas um emaranhado de conexões que são desfeitas e recompostas ao longo da vida.
Depois, afirma que tecnologias de escrita e leitura modificam a forma de pensar. Fechando o círculo, Carr conclui que a internet produz cérebros sob medida para mentes superficiais.
(ML)http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saber/sb2009201001.htm
Navegando e naufragandoAlunos perdem o costume de manusear enciclopédias e ainda sentem dificuldade para encontrar informações de qualidade na internet; é papel da escola, portanto, orientá-los nas pesquisasFotos Carlos Cecconello/Folhapress


Arthur de Oliveira Araujo, 13, procura informações sobre o mesmo assunto na internet

FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO
LUCIANO BOTTINI FILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHAFernando Foster, 49, vende enciclopédias da Barsa há 30 anos. Seu modo de trabalhar quase não mudou e ele continua vendendo tão bem quanto no início da carreira.
A diferença é que agora sempre leva um notebook para as visitas a potenciais clientes. Assim, pode mostrar os atributos não só da edição impressa como da digital -quem compra os livros ganha DVD-Rom e acesso ao conteúdo da internet.
Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, está no 6º ano do colégio Elvira Brandão, na zona sul de São Paulo. Dentre seus cerca de 30 colegas, é o único que sabe o que é uma enciclopédia, mesmo que não a utilize com frequência.
Com um mundo de informações a apenas um clique, muitos alunos não aprendem a pesquisar em livros, o que preocupa as escolas.
"Não é preciso evitar a internet, mas o estudante deve entender a diferença [entre o material impresso e o que está disponível na rede]", diz Jorge Cauz, presidente da Encyclopaedia Britannica. Diferentemente da Barsa, a Britannica concentra 95% das vendas no meio digital.
Antônio Joaquim Severino, professor aposentado da Faculdade de Educação da USP, defende que o manuseio dos livros continua uma via pedagógica insubstituível. "O recurso às fontes eletrônicas é enriquecedor, mas complementar."

AULA DE BIBLIOTECA
Para suprir essa falta de costume de pesquisar em livros, o colégio Santa Maria (zona sul de SP) dá aulas sobre como usar a biblioteca.
"As crianças se assustam quando ouvem as palavras "acervo" ou "lombada'", conta a bibliotecária Marilúcia Bernardi. Os estudantes aprendem a manusear livros, jornais e revistas.
Mas a preocupação com o uso do conteúdo disponível na internet também existe. "Às vezes, o professor pressupõe que o aluno sabe pesquisar, mas tem que ter orientação", diz Miguel Thompson, diretor de marketing e serviços educacionais da Editora Moderna.
A ingenuidade faz com que os estudantes acessem sites inseguros, recorram a conteúdos desatualizados e não saibam a diferença entre informações boas e ruins.
"Os alunos pensam que sites que trazem poucos resultados são péssimos, em comparação com o Google, que traz um milhão de respostas", diz Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da informação e comunicação da Stance Dual (centro).
Quando há casos de plágio ou se os alunos escrevem o que não devem na rede, a escola propõe uma discussão sobre condutas éticas.
No Santo Américo (zona oeste), a saída foi convidar uma empresa de direito eletrônico para conversar com os alunos. "Passar a noção de autoria é um desafio", diz a diretora Elenice Lobo.
Pesquisa na rede é mais rápida, mas não é mais fácilDE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHAPara mostrar as diferenças entre os tipos de pesquisa, a reportagem convidou dois alunos do Elvira Brandão para participar de um desafio.
Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, teve dez minutos para pesquisar sobre o tema comércio informal em livros. O mesmo tempo foi a dado a Arthur de Oliveira Araujo, 13, que buscou informações sobre o assunto na internet.
Na biblioteca, Luiz levou mais de dois minutos até encontrar o volume da enciclopédia que serviria à sua pesquisa. Ao final do quarto minuto, ainda estava no índice.
No décimo, folha de caderno em branco, ele se convenceu: "Se a gente for consultar tudo na enciclopédia, vai perder muito tempo".
Na sala de informática, os dez minutos foram suficientes para que Arthur visitasse cinco sites e escrevesse quatro linhas. No entanto, elas não faziam muito sentido.
"É feita a cobrança muito alta de imposto para não fazer coisas com ele", dizia seu texto, que tentava relacionar o comércio informal à sonegação de impostos.
Segundo a psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner, o conteúdo pesquisado na internet não é tão bem assimilado quanto o lido em uma fonte impressa.
"Existe um descaso em relação à internet. O internauta não se apropria da informação", diz ela.
DICAS PARA OS PAIS

4 passos para evitar o acesso a conteúdos inadequados

1 -DIÁLOGO
Converse comseu filho sobre o que ele acessa na rede e os riscos envolvidos

2 -CONTROLE
Filtros de conteúdo impedem o acesso a páginas proibidas para crianças. Acompanhe sempre o histórico de navegação de seu filho

3 -ESCOLA
Saiba se, na sala de aula, a internet é usada com segurança e se o professor ensina como usá-la

4 -PRESENÇA
O computador deve ficar em um ambiente comum, próximo dos pais. Não deixe a criança usar a internet sozinha, no quarto

Fonte: Rosilei Vilas Boas, coordenadora de Gestão da Informação da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática
DICAS PARA OS ALUNOS

Antes de sair digitando www, pense em cinco perguntas: quem, por que, o que, quando e onde

1- QUEM?
Descubra quem é o autor do site para saber se é uma página pessoal ou de uma instituição. Isso assegura a confiança nos dados. Uma dica é atentar para o tipo de domínio da página(.com, .gov, .edu)

2- POR QUÊ?
Identifique a função da página -diversão, educação ou publicidade, por exemplo. Verifique se o autor não está sendo irônico

3- O QUÊ?
Diferencie os tipos de texto: pode ser uma notícia, um artigo de opinião ou uma pesquisa acadêmica, por exemplo

4- QUANDO?
Tenha cuidado com informações desatualizadas

5- ONDE?
Avalie a origem do conteúdo para saber se as informações valempara o seu país ou a sua cidade

Fonte: Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da escola Stance Dual

sábado, 18 de setembro de 2010

A autocrítica de Pablo Milanés (a respeito da revolução cubana)

Comentários a reportagem da Folha (e ao e-mail de um amigo):

É louvável que Pablo Milanés e outros outrora defensores incondicionais do regime cubano façam a autocrítica, mas ela continua insuficiente e equivocada, como se pode ver no trecho abaixo

"Sempre digo que o país tem que ser reconstruído com os Castro. Porque os Castro foram os responsáveis pelo mau e pelo bom que aconteceu na revolução durante 52 anos.
Eles têm a responsabilidade histórica de garantir que antes e depois de sua morte o país fique em paz consigo mesmo, com todos os que se sacrificaram para manter a revolução, e não com os oportunistas que estão se preparando para vender o país quando morrerem."

Ora, o tipo de ascendência que Pablo Milanés atribui aos irmãos Castro lembra a das monarquias européias. E se ficasse só nisso eu não veria problema algum. A familia real inglesa, e também as do continente (Dinamarca, Noruega e Bélgica - se não me engano - Espanha, etc), continuam exercendo um papel simbólico importante nestes países. As repúblicas em estado puro, França, Brasil, EUA, não parecem ter-se saído tão melhor que as que preservaram as instituições monárquicas. Parece que seus (nossos) heróis não substituíram inteiramente os reis e raínhas na condução moral de seus povos. Mas existe uma grande diferença entre as monarquias contemporâneas européias e as lideranças revolucionárias remanescentes do chamado 'socialismo real' (Cuba e Coréia do Norte): elas exercem um poder puramente simbólico. As sociedades européias souberam dar-lhe o devido papel. Quem decide as coisas, hoje, é o parlamento, o primeiro ministro, o presidente. Reis, raínhas, príncipes e princesas limitam-se às relações públicas, à condução de eventos cerimoniais, discursos e campanhas filantrópicas. Que o mesmo papel seja delegado aos irmãos Castro por aqueles que ainda os têm como líderes autênticos (e que não são, obviamente, os que sofreram persequição política nos últimos 50 anos). Isto ainda seria razoável. Mas defender a permanência dos mesmos no poder... e ainda por cima sem alusão alguma a eleições livres, à necessidade de um sistema pluripartidário, à liberdade de imprensa... isso é insistir num erro que não tem apenas '20 anos', como diz o artista, mas 50 anos!!

Alexandre


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1809201013.htm

Reformas estão 20 anos atrasadas, diz compositor
Para Pablo Milanés, irmãos Castro têm de fazer transição econômica

Ídolo da música cubana afirma que mudanças significam abertura para artistas, mas que ainda são insuficientes

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
As reformas em Cuba deveriam ter começado há 20 anos e os irmãos Fidel e Raúl Castro têm a obrigação de fazer a transição para um novo modelo, a fim de que a ilha não acabe entregue a "oportunistas que se preparam para vender o país quando eles morrerem".
A cobrança é feita pelo cantor e compositor Pablo Milanés, partidário da Revolução Cubana que nos últimos anos tem feito críticas públicas ao regime, incluindo na recente greve de fome de oposicionistas.
Ele deu entrevista num intervalo entre participações no festival de Três Pontas (MG) e no TelefônicaSonidos, que começa no dia 21, em São Paulo.
Morador de Havana, ele deu à filha caçula, de 20 meses, o nome de Rosa Parks -símbolo do movimento contra a segregação racial nos EUA- e continua admirador de Barack Obama.

Folha - A política estava na Nova Trova, como está no regaton e no rap das novas gerações de músicos cubanos. A música é um veículo de debate em Cuba?

Pablo Milanés - Não há um debate aberto [em Cuba]. As expressões musicais se manifestam, não há represálias abertas, mas tampouco uma aceitação do Estado. Há apenas um estado de tolerância.

O Estado controla a difusão?

Controla tudo. Agora, como tem sido noticiado, há medidas para que 500 mil empregados do Estado passem ao serviço privado. Me parece que isso vai gerar muito mais liberdade no exercício do trabalho, incluindo na arte.

As reformas econômicas vão funcionar?

Significam uma abertura, é indubitável. Mas vejo um círculo vicioso no qual as travas que o próprio Estado criou -por meio das proibições à pequena indústria, ao pequeno comércio, ao trabalho por conta própria- criam obstáculos que vão impedir que isso evolua rápido.
Haverá necessidade de matérias-primas, de pequenas fábricas. Será preciso criar uma infraestrutura que o país não tem, e não vejo Orçamento para isso.
Em longo prazo, pode dar certo. Acho que o povo se sacrifica sobretudo quando depende dele próprio.

O que virá após os Castro?

Sempre digo que o país tem que ser reconstruído com os Castro. Porque os Castro foram os responsáveis pelo mau e pelo bom que aconteceu na revolução durante 52 anos.
Eles têm a responsabilidade histórica de garantir que antes e depois de sua morte o país fique em paz consigo mesmo, com todos os que se sacrificaram para manter a revolução, e não com os oportunistas que estão se preparando para vender o país quando morrerem.
Têm que se preparar para deixar um país digno, que possa recuperar o que foi perdido pelos erros cometidos nestes anos.

O senhor disse que era preciso uma nova revolução. É possível?

Falo em insuflar um talento novo, que existe. Mas tem que ser buscado sem preconceitos, não apenas em gente dentro do poder, mas sim nos jovens que estão em toda parte e dispostos a fazer uma gestão saudável, em função do socialismo, mas com novas ideias.

Incomoda o sr. que a saída para a libertação de opositores presos tenha sido o exílio?

Claro que sim. Gostaria que fosse desenvolvido um meio para que se possa divergir do governo. Desde que caiu a União Soviética, há 20 anos, minhas ideias para Cuba são muito críticas.
O país não podia manter o modelo socialista ortodoxo. Tinha que partir para um nacionalismo econômico, cultural e industrial, depender do próprio esforço.
Temos 20 anos de atraso em dar ao povo a possibilidade de se desenvolver pelos próprios meios. Se todos tivessem tido a liberdade e a possibilidade de se manifestar, teria sido outra coisa.

Como vê as recentes declarações de Fidel e sua recuperação?

Me parece extraordinário. E não acho que seja um homem afastado do poder, que seja apenas, como ele disse, uma testemunha. Fidel ainda é o primeiro secretário do Partido [Comunista]. Portanto, Fidel permanece no poder absoluto.

O americano Barack Obama foi uma decepção para você?

Não. Obama é um negro que chegou ao poder nos EUA e parece que lhe fizeram uma armadilha, para enfrentar tudo que Bush deixou: um sistema capitalista destruído, um país destruído, e quase o mundo inteiro destruído. Foi a herança que Obama recebeu.
 
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