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sábado, 9 de junho de 2012

Anima Session apresenta: Eldorado Kabarett



Você já ouviu falar da “República de Weimar”? Esse é o nome dado (referência à cidade de Weimar, onde a república foi proclamada) ao breve intervalo democrático vivido pela Alemanha entreguerras. Durou de 1918 a 1933, quando os nazistas assaltaram o poder. “Prestes a perder a Primeira Guerra Mundial, a liderança militar alemã, altamente autocrática e conservadora, atirou o poder para as mãos dos democratas”  (Wikipédia) pra que eles tivessem que negociar a paz. “Ou seja, a derrota na guerra” que ela própria tinha iniciado. Já viram esse filme antes? Ou melhor, depois? A república foi, portanto, um “presente envenenado à democracia”.  Independentemente disso, o período é visto com certa nostalgia por boa parte dos alemães devido ao fato de provavelmente ter sido a única oportunidade que tiveram de vivenciar liberdades civis antes do término da 2ª guerra. Foi a belle epoque deles, um pequeno lapso de tempo em que artistas e grupos minoritários puderam se expressar sem medo de represálias (ou das câmaras de gás). Conhecer o 1920’s Berlin Project foi uma grata surpresa. Criado pela usuária do avatar Jo Yardley, em Second Life, trata-se de uma magnífica réplica. Fiz uma animação (machinima) pra tentar captar o espírito daquele tempo. Espero que gostem.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre as implicações da revolução industrial para a educação.

Joelma, nosso dia a dia tá impregnado de racionalidade. A revolução industrial e a consequente urbanização impulsionou a regulação de nossas vidas no tempo e no espaço. Isso foi bom ou ruim? Não sei. O que sei é que foi necessário (por razões diversas). Eu sempre achei que devemos dissociar o valor das ferramentas do eventual mau uso que terceiros possam fazer delas. Não discuto se Skinner fez bom ou mau uso de suas descobertas. O que proponho é 1) reconhecer que são ferramentas poderosas; 2) considerar que uma parcela delas já se tornou parte integrante do nosso dia a dia e que o reconhecimento disso pode ser o primeiro passo pra capitalizá-las a favor da educação democrática que queremos. Os softwares que invadiram nossas vidas servem, por exemplo, pra minimizar o tempo das tarefas, repetitivas ou não. No caso da educação, pra minimizar o tempo de resposta ao estudante, uma das justificativas de Skinner pra utilização da tecnologia em sala de aula. O conceito está presente inclusive na breve conversa entre Bill Gates e Steve Jobs tiveram sobre a aplicação dos computadores na educação, presente na famosa biografia disponível nas bancas. Ora, aumentar a velocidade com que os alunos aprendem não tem a ver com o aumento do nível de escolaridade? Com formação de mão de obra qualificada, crescimento econômico e consequente diminuição do desemprego? E tudo isso com democracia? (PS: a China, ela sim taylorista no pior sentido, é claramente a exceção à regra). Não sei se alguém antes de Skinner expôs essas vantagens e a necessidade disso de forma tão clara.

João e Imaculada: não somos máquinas, claro, mas quando as  utilizamos, elas “são a gente”. Concordo com Marshall McLuhan: as máquinas são extensões dos nossos corpos e sentidos (o carro, o avião, a bicicleta são extensões das nossas pernas; a televisão e a máquina fotográfica, extensões dos nossos olhos; o rádio, o ipod, extensões da nossa audição; o computador, do nosso cérebro...). O argumento (tornado clichê) de que não somos máquinas e que, portanto, Taylor e Skinner devem ser considerados cartas fora do baralho democrático põe coisas e valores, criador e criatura... tudo no mesmo saco. O que proponho, mais uma vez, é passarmos o pente fino, separarmos o joio do trigo (uma das maneiras de se fazer isso é justamente como você, João, tá fazendo com Descartes). Caso contrário corremos o risco de jogar o bebê fora junto com a água suja, como se diz. Democracia é um valor que veio pra ficar. É universal sim, ao contrário do que defendem algumas correntes multiculturalistas. Nenhuma democracia hoje sobrevive, porém, sem a aplicação maciça da tecnologia, resultado direto da revolução industrial. Aí entramos numa aparente contradição. À primeira vista a industrialização (a máquina), quando aplicada à produção em série (fordismo) com controle e minimização do tempo (racionalização taylorista), nivela e equaliza seres humanos diferentes. Um juízo mais apurado nos mostra, porém, que essa mesma produção em série também democratiza o acesso aos bens materiais (e com isso, segundo o que se pode depreender de Marx, também os bens intangíveis) outrora pertencentes apenas às elites. Se Skinner e Taylor fizeram mau uso desse poder negando a justa participação no processo a alunos e trabalhadores, respectivamente, o que devemos atacar é o mau uso, não o poder que eles foram pioneiros em vislumbrar. O curioso é que já se faz justamente isso com Maquiavel. Por que não com Skinner e Taylor? Defender o contrário faz lembrar o movimento dos operários ingleses que, ao invés de atacar o mau uso das máquinas atacavam as próprias máquinas (os ludistas). Lembrei de poema de Brecht bem apropriado à discussão:

"O outro Lado”

Em 1934, no oitavo ano da guerra civil
Aviões de Chiang Kai-chek lançaram
Sobre o território dos comunistas
Panfletos onde colocavam a prêmio
A cabeça de Mao Tsé Tung.
Previdente
O estigmatizado Mao, em vista da falta
De papel, e da abundância de idéias
Fez juntar aquelas folhas impressas
De um só lado, e as fez correr entre a população
Com coisas úteis impressas (...) no lado limpo”

PS:  Não joguemos fora os papéis: aproveitemos o outro lado.

Quero destacar pelo menos uma consequência nefasta do não reconhecimento do verdadeiro papel da racionalização do trabalho na educação: muitos educadores que se dizem democráticos atacam as avaliações de múltipla escolha sob o argumento de que não estimulam a criatividade, não desenvolvem a autonomia, etc. Em outras palavras, os alunos não são máquinas. São dotados de subjetividade e, portanto, redações e projetos seriam muito mais apropriados a uma educação de qualidade (observação: em condições ideais, eu também prefiro as redações e os projetos). Como porém “condições ideais” são sinônimo de utopia, e não estamos tratando de ficção mas de realidade, então: a) esses educadores simplesmente não fizeram a ponte, não sacaram as implicações da revolução industrial para a educação. Não perceberam que é mais democrático racionalizar o tempo da avaliação pra recolher informações sobre o sistema educacional em todo o território nacional a fim de diagnosticar e corrigir seus problemas que deixar as comunidades do “Brasil profundo”  à mercê dos “currais pedagógicos”, onde diretores incompetentes apadrinhados pelos políticos locais mantém-se em seus respectivos cargos há anos sem serem postos à prova por nenhuma incômoda avaliação externa a descortinar o resultado de anos e anos de mau ensino derivado da substituição do mérito pelo clientelismo; b) Também não perceberam as implicações de outra revolução, anterior à revolução industrial, e sem a qual esta última não teria existido: a revolução científica. Galileu Galilei, o pai da ciência moderna, ao deslocar o eixo do critério de verdade da teoria pra prática, do texto escrito (Aristóteles) para a experimentação (observação do fenômeno, formulação de uma hipótese explicativa, verificação experimental e comprovação/refutação), criou as bases da revolução insdustrial e da sociedade como hoje a conhecemos. Em ciências humanas a “experimentação” pode se dar de várias maneiras. Uma delas é ir de encontro ao fenômeno e recolher informações, comparar e entender o porquê dele se manifestar desta ou daquela forma. O nome disso em educação pública (não na pesquisa universitária)? Avaliação externa! O contraponto democrático (pra que essas informações não sejam mau utilizadas) se dá de uma forma bem parecida com a solução encontrada pelos trabalhadores pós-ludistas, que criaram sindicatos: fazer os conselhos de escola funcionarem. Finalizando: Skinner, Taylor, Maquiavel & Cia nos fizeram o favor não só de desvelar as diversas dimensões do poder como também arriscar soluções e encaminhamentos (mesmo que a serviço das elites). Reconheçamos a importância dessas descobertas e utilizêmo-las ao nosso favor.
 
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