Artigos, animações virtuais, poesias, etc...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comentários aos comentários sobre minha resposta ao manifesto de M. Chauí e P. Singer

Algumas considerações:

1) Concordo em que é necessário sim dialogar com Irã, Venezuela, Cuba & Cia, mas acredito que Lula foi um pouco além do simples diálogo. Seus comentários a respeito dos protesto dos iranianos contra a eleição provavelmente forjada do... (não sei escrever aquele nome terrível, rs)... do líder iraniano, a respeito da greve de fome dos presos políticos cubanos, seu silêncio quanto ao fechamento de redes de tv e jornais na Venezuela... Tudo isso faz com que se possa suspeitar da concepção de democracia do PT

2) Discordo do seu relativismo quanto à definição de democracia. Se por um lado é preciso reconhecer os entraves às liberdades, em geral, onde quer que elas existam ou deixem de existir, por outro é preciso estipular parâmetros e definir quem se aproxima e quem se distancia deles. Os EUA deixam a desejar em vários aspectos nesse sentido sim, mas comparados aos outros citados aqui, podemos dizer que internamente são sim democráticos. Eleições (+) transparentes, separação igreja/estado, liberdade de crítica, mobilidade social (ascensão das minorias, Barack Obama negro), igualdade entre os gêneros, alternância no poder, etc. Seu ponto fraco é o apoio a regimes autoritários e ditaduras nos quatro cantos do mundo, de acordo com seus próprios interesses. Isso, no meu entender, precisa ser analisado, porém, primeiro na ótica da guerra fria. Segundo, pela geopolítica internacional. O apoio às democracias precisa ser a tônica geral dos países. Se os outros também titubeiam nessa defesa (o Brasil, inclusive), os EUA não podem ser os únicos responsabilizados. E digamos que eles, por outro lado, também dão grande incentivo às democracias nascentes, o caso da Nação Palestina, por exemplo, que elegeu o Hamas e, mesmo assim, continua contando com o apoio dos EUA para a criação do estado palestino.

3) Quanto ao Brasil ter se saído bem na crise, concordo quanto à importância do mercado interno. Ele não seria suficiente pra conter o desemprego e a recessão, porém, caso fôssemos exportadores de tecnologia. Acompanho os debates na Globonews, GNT, e pude constatar que essa posição não é só da 'The Economist". Como já citei, endossam essa análise o Carlos Alberto Sardenberg, O Ricardo Amorin & Cia.

4) Eu vi sim Serra tocar na questão dos cargos de comissão. E numa rápida pesquisa no Google encontrei esses links aqui dando destaque ao tema, inclusive um que critica Serra justamente por tentar promover meritocracia na carreira do magistério. Dê uma olhada: http://www.google.com.br/search?sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=meritocracia+Serra

5) Sobre conrole das mídias, acredito que a melhor forma de controle é a quebra de monopólios no setor e o incentivo a novos canais de comunicação (jornais, revistas, rádio, televisão), mas nunca monitoramento. Salvaguardado o direito de todos os setores de criarem seus próprios veículos, a regulação do setor deverá caber aos leitores. Eles é que darão sua credibilidade ou não aos fornecedores de notícias.

Abs

Alexandre

Resposta ao Manifesto de Marilena Chauí e Paul Singer

Antes de tudo, acho que é preciso hierarquizar os valores. Se Paul Singer e Marilena procuram arrumar a casa nesse mar de informações desencontradas, Soninha Francine, Arnaldo Jabor, Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr, Capovilla e outros tantos tem feito o mesmo do outro lado. Vamos também nós tentar arrumar a casa:

a) Penso que a democracia rivaliza com a justiça social em prioridade. Isto porque é justamente através da democracia que as massas podem, ao longo de sua evolução, manifestar seus anseios sociais. Exemplo disso é o Lula no poder, só possível graças à observância dos princípios democráticos por nossas instituições. Se a miséria põe a democracia em risco, a concentração excessiva de poder também o faz. É preciso um equilíbrio entre a luta por justiça social e o processo permanente de descentralização de poderes que caracteriza a democracia.

b) Muitos movimentos sociais, no mundo inteiro, se caracterizaram por atacar as injustiças sociais - num primeiro momento - concentrando poderes para poder fazer isso mais velozmente (URRS, Leste Europeu, Vietnã, Coréia do Norte, China, Cuba, etc). O problema é que, passado o período de exceção, mantiveram o poder centralizado, gerando assim outras formas de injustiça: a ascensão da classe dos burocratas, com regalias equiparáveis às que antes auferiam a monarquia, a burguesia, etc. Também se caracterizaram pelo cerceamento da liberdade de expressão, com o aprisionamento dos dissidentes. Pelo cerceamento da liberdade de ir e vir, etc. Nas democracias ocidentais essas exceções à democracia aconteceram somente por breves períodos, como por exemplo no macarthismo (USA). Passada a crise, tudo voltou ao normal. Mesmo no Brasil foi assim. Nos países citados mais acima, porém, a crise só serviu de pretexto para a passagem de poder de uma classe minoritária a outra igualmente minoritária.

c) Tendo em vista o disposto nos ítens acima, eu creio que devemos nos pautar por políticas que promovam sim justiça social - o que no Brasil atual significa, primordialmente, distribuição de renda e serviços públicos de qualidade - porém com plena liberdade de expressão e descentralização cada vez maior de poderes.

d) Concordo que o PT tenha aprofundado as políticas sociais do PSDB. Isso, no entanto, foi feito em meio a uma avalanche de escândalos postos em banho maria pelo partido, bem como sucessivas tentativas de concentração de poder. Primeiro pelo aparelhamento dos órgãos públicos. Segundo pela concepção errônea, já posta em prática nos chamados conselhos estaduais, de que os órgãos de imprensa devem ser monitorados (ao invés de ser postos à prova por uma política diametralmente oposta a esta: o fomento ao surgimento de novos canais de informação). Terceiro, pelo apoio internacional a governos autoritários, tais como os da Venezuela e do Irã.

e) Considerado o que foi posto acima, eu entendo que o PSDB se aproxima mais desse ponto de equilíbrio por várias razões: Serra apóia políticas meritocráticas não só para o funcionalismo público, como também na educação; Condena veementemente os regimes autoritários da Venezuela e do Irã; Repugna a política de oposição a qualquer custo do PT. Defende o bem-público acima das disputas partidárias; O PSDB tem a seu favor o Plano Real, a lei de responsabilidade fiscal, a criação dos programas de transferência de renda, a ampliação do serviço de telefonia a toda a população, a política acertada dos genéricos, a quebra da patente dos remédios contra a AIDS, a biografia limpa e de participação nos movimentos estudantis de Serra, sua atitude serena diante do discurso truculento dos petistas, sua defesa intransigente das instituições democráticas, a praticidade e objetividade que o permite desideologizar questões importantes em política interna e externa, tais como a natureza de nossa participação no mercosul, nossas relações com a China, USA, etc.

f) Paul Singer, Marilena Chauí e outros tantos intelectuais têm colocado a luta por justiça social à frente da defesa da democracia formal, da democracia representativa. Isto os posiciona ao lado de todos os já citados movimentos de esquerda que centralizaram poder gerando sociedade totalitárias ou autoritárias. Ignoram em seus discursos os exemplos das democracias desenvolvidas, em especial as escandinavas, que promoveram justiça social sem abrir mão da democracia. 

g) Ignoram, em seu discurso, o fato de que não foi só o Brasil que se saiu bem da crise, mas os países exportadores de matérias primas em geral, como bem ressaltou a 'The Economist'. Nos saímos bem não somente pela política econômica petista (na verdade tucana), mas pelo fato de não sermos exportadores de tecnologia. Esse dado também tem sido ressaltado pelos economistas Ricardo Amorin (qualificado ou desqualificado?) e Ricardo Sardenberg (qualificado ou desqualificado?), entre ourtros.

h)Paul Singer e Marilena Chauí, pasmem os ingênuos, também defendem sua condição de professores universitários públicos, beneficiários portanto dos programas de incentivo e fomento da universidade pública (mas em grande parte 'privada') brasileira, que continua premiando setores privilegiados da população com a gratuidade de dispendiosos cursos universitários (pagos pelos mais pobres que não vão à universidade). São beneficiários também do fisiologismo das nossas universidades públicas, fisiologismo que as fazem evocar a 'autonomia universitária' com as mesmas vozes que a defendiam contra a ditadura sem se aperceber que agora não se trata mais de resguardar as liberdades democráticas elementares, porém de simplesmente permitir aos poderes públicos a conferência e fiscalização das suas contas. Justo, não? Como muitos marxistas ensinam, cabe aqui aplicar a Paul Singer, Marilena Chauí & Cia a mesma lógica que eles costumam aplicar somente aos outros.

i) Paul Singer e Marilena Chauí sequer tocam nos pontos importantes das relações internacionais quando afirmam o compromisso do PT com a democracia. Falham aí. Deveria explicar as incríveis contradições do partido nesse campo.

j) Creio que seria se suma importância que os intelectuais partidários do discurso do manifesto, bem como os demais defensores dos atuais gastos com o ensino público, aceitassem de bom grado a transparência na divulgação dos resultados das avaliações externas levadas a cabo tanto no 1º (SARESP, aqui em SP) quanto no segundo (ENEM) e terceiro graus (ENADE). Isso ajudaria sobremaneira ao conjunto da sociedade quanto à tomada de decisões relativas à aplicação do dinheiro público na educação. Ao contrário disso, a USP tem se recusado há vários anos a participar do ENADE (somente agora a UNICAMP aderiu), o MEC não divulga rankings (só divulgados pela imprensa) e os sindicatos qua apoiam o PT boicotam as avaliações, tanto das escolas quanto dos próprios professores, o quanto podem.

Conclusão: considerando principalmente a necessidade de um equilíbrio entre as políticas de transferência de renda com a defesa das instituições democráticas e republicanas, o quanto o passado dos dois candidatos e das duas coligações têm a seu favor nesse quesito, bem como a necessidade imperiosa de sinalizar à sociedade e às novas gerações a minha não anuência em relação ao pouco caso com a desonestidade no trato da coisa pública, quero reafirmar meu apoio a José Serra.

1- Alexandre de Souza Mattos



Data: 26 de outubro de 2010 20:57
Assunto: O manifesto de Chauí e Paul Singer
 
 
26 de outubro de 2010 às 3:00

O manifesto de Chauí e Paul Singer

MANIFESTO AOS BRASILEIROS E BRASILEIRAS

por Marilena Chauí e Paul Singer

Em 31 de outubro deste ano, os brasileiros serão chamados novamente às urnas para decidir os rumos do país pelos próximos quatro anos. A campanha tem se caracterizado por um acirrado duelo de denúncias, calúnias e boatos, que quase não deixou espaço para a discussão dos problemas da nação e as diferentes opções políticas que existem para solucioná-los. Não podemos permitir que o mesmo se repita neste segundo e derradeiro turno, como se a escolha da pessoa que ocupará a Presidência da República dependesse exclusivamente das intenções ostensivas ou ocultas dos candidatos.

Os dois candidatos que disputarão nossos votos são Dilma Roussef e José Serra, que representam as duas coligações partidárias que governaram o Brasil durante os últimos 16 anos, com objetivos e métodos distintos, derivados de interesses e ideologias de classe muito diferentes.

É necessário então explicitar os projetos e se posicionar a partir de uma avaliação das opções que cada uma das coalizões representa, manifestada nas gestões, tanto nacionais como estaduais, que dirigiram.

A coligação que apóia Serra governou durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, e teve por mérito encerrar a violenta crise inflacionária que atingiu o país entre 1979 e 1994 por meio duma política que abriu completamente o mercado interno às importações de produtos industriais, vindas principalmente da Ásia, barateadas pelo baixo custo da mão de obra nos países de origem e pela valorização do real. O custo de vida efetivamente deixou de subir, tirando da miséria no primeiro ano do plano real alguns milhões de brasileiros, mais atingidos pela inflação alta. Contudo, os custos também foram altos. A indústria nacional entrou em terrível crise, que quebrou grande número de empresas e eliminou milhões de postos de trabalho. O desemprego tornou-se de massa, a ponto dos movimentos reivindicatórios dos sindicatos cessarem, com a trágica exceção das greves de protesto contra demissões coletivas.

O custo da estabilização dos preços foi altíssimo e foi pago pela classe operária, na forma de desemprego em massa e duradouro e de persistente queda dos salários, decorrente do excesso de oferta de força de trabalho no mercado. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a economia nacional só cresceu em alguns anos excepcionais; durante os demais a economia ficou em recessão, causada por sucessivas crises financeiras internacionais, de cujos efeitos a política liberal posta em ação foi completamente incapaz de proteger o país.

Durante o governo Lula a política econômica, que foi paulatinamente sendo retirada da camisa de força liberal, fez com que o Brasil crescesse duas vezes mais que durante os quatriênios tucanos. A oposição tucana alega que isso se deve à sorte de Lula de governar numa época em que as crises financeiras foram menos freqüentes. Este argumento foi posto à prova quando estourou a atual crise financeira internacional, em 2008, que é de longe mais extensa e profunda que as crises ocorridas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Como todos sabem, a economia brasileira foi afetada apenas durante dois trimestres graças à vigorosa política anticíclica do governo. Este ano espera-se que a economia brasileira cresça algo como 7%, enquanto a maioria das economias do 1o Mundo ainda estão mergulhadas na crise.

O crescimento econômico havido durante o governo Lula é fruto portanto de opções políticas, que apesar do ponto de vista cambial e monetário não ter se distinguido consideravelmente do período de FHC, no computo geral realizou uma inflexão na política econômica, ampliando o credito, fomentando o mercado interno, recolocando o estado como agente ativo do crescimento, taxando o capital especulativo estrangeiro que entra no país, valorizando o salário mínimo e inclusive desenvolvendo em escala uma serie de políticas sociais, que também tiveram importante impacto do ponto de vista econômico, ao ampliar a demanda efetiva por bens e serviços no mercado interno.

No que diz respeito às políticas sociais, o governo tucano iniciou ou deu continuidade a algumas políticas sociais: a distribuição de auxílios às famílias com renda abaixo dum patamar mínimo e a concessão de crédito subsidiado pelo Pronaf aos pequenos agricultores mais necessitados. Mas estes programas foram executados de forma tão limitada que beneficiaram apenas uma fração dos que deveriam ser atendidos. Quando diferenças de quantidade se tornam muito grandes, geram diferenças de qualidade: no governo FHC as políticas sociais eram marginais e de pouco impacto, mas no governo Lula elas se tornaram prioritárias, ganhando abrangência e desencadeando forte estímulo ao desenvolvimento econômico local.

Em suma, a grande prioridade do governo tucano foi impedir a volta da inflação, o que foi conseguido pelo recurso a medidas recessivas sempre que turbulências financeiras atingiam o Brasil. A outra prioridade deste governo foi reduzir as dimensões do Estado mediante a privatização da indústria siderúrgica, das empresas estatais de produção e distribuição de energia elétrica, de telecomunicações, além da maioria dos bancos públicos. O coroamento deste processo foi a privatização da Vale do Rio do Doce, feita sem qualquer justificativa de interesse público, mas apenas pelo princípio ideológico de que qualquer empreendimento que possa ser operada pela iniciativa privada não deve permanecer em poder do Estado. Apesar da venda de grande parte do patrimônio público, o governo FHC acumulou enorme dívida pública.

O governo do Presidente Lula priorizou desde o seu início a retomada do desenvolvimento com redistribuição da renda. Para atingir estes objetivos, o governo lançou o Programa de Fome Zero, estratégia estruturante de combate à pobreza e distribuição de renda, que, entre outras coisas, tratou de estimular a produção alimentar pela agricultura familiar e propiciar segurança alimentar para o povo brasileiro. Ao mesmo tempo unificou diversos programas de renda mínima, até então fragmentados e localizados, e deu escala, resultando no admirado e internacionalmente imitado Programa de Bolsa Família, que resgatou da fome e da miséria dezenas de milhões de brasileiros e levou pela primeira vez desenvolvimento econômico aos bolsões de pobreza. Mais recentemente, o governo promoveu a criação do Sistema Único de Assistência Social, o SUAS, ampliando a rede de proteção social rumo à universalização da promoção dos direitos para crianças e adolescentes em situação de risco, população de rua e outros segmentos vulneráveis.

No governo Lula, o crescimento econômico não esteve apartado do respeito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o país assumiu o protagonismo na defesa do uso da matriz energética limpa e propondo compromissos internacionais importantes na redução do desmatamento e da emissão dos gases de efeito estufa. Para não falar da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que significará uma nova etapa em termos de sustentabilidade e inclusão social, com o reconhecimento dos catadores de materiais recicláveis alcançando um patamar de dignidade. Isso é respeito ao meio ambiente aliado com o desenvolvimento humano.

Na área da segurança pública, por meio do Ministério da Justiça, que ao fazer a articulação entre a política de segurança e ações preventivas na área social, inaugurou uma nova etapa no combate à violência em nosso país, enfrentando ao mesmo tempo as causas e o crime em si.

A natureza deste manifesto não permite descrever cada uma das muitas políticas sociais realizadas pelo governo petista. Vamos apenas enumerar as mais importantes: a Luz para Todos que atingiu a quase totalidade das famílias dela carentes; o Pronaf, que atuava na prática apenas no Sul do Brasil foi estendido a todo território nacional, resgatando assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos; o salário mínimo foi reajustado sistematicamente acima da inflação, beneficiando milhões de assalariados e aposentados. O programa de Aquisição de Alimentos criou um mercado seguro para os pequenos produtores agrícolas, preferencialmente organizados em cooperativas, e juntamente com o Programa Mais Alimentos e o de Alimentação Escolar arrancou da miséria grande parte do campesinato, a ponto da emigração do campo às cidades ter cessado apesar do desemprego nas metrópoles ter caído à metade nos últimos sete anos.

De fato, o crescimento econômico aliado às políticas ativas de trabalho e emprego fizeram que fossem gerados mais de 14 milhões de postos de trabalho formais nos últimos anos. Além disso, o governo fomentou o trabalho associado em economia solidária, fortaleceu a agricultura familiar e facilitou a formalização de milhares de empreendedores individuais. O resultado tem sido a redução do trabalho informal e desprotegido.

Haveria que mencionar ainda a ampliação notável das redes públicas de escolas do primeiro ao terceiro grau, estimuladas pelo FUNDEB, que ampliou o financiamento público para toda a educação básica, coroada pelo Programa ProUni, que abriu as portas do ensino superior a centenas de milhares de jovens oriundos de famílias de baixa renda e/ou racialmente discriminadas; e a acentuada expansão de escolas técnicas tem a mesma natureza redistributiva.

Além disto, o governo Lula criou novos programas que buscam uma transformação mais profunda da sociedade, criando novos modelos de desenvolvimento e de participação social nas políticas publicas, como por exemplo, as políticas de apoio à economia solidária, os Territórios da Cidadania, as ações de etnodesenvolvimento para as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, todas elas grandes inovações na integração e gestão democrática das políticas públicas.

Para além dos programas, o governo Lula, deu à Secretaria de Direito Humanos da Presidência da República, o status de Ministério, reforçando o compromisso do Governo Federal com os direitos humanos. Os trabalhos desse Ministério, corajosos e bravos, não passaram despercebidos pela sociedade, que tomou conhecimento – se bem que por via distorcida por um certo olhar conservador vindo da grande imprensa – de temas como o direito à memória e à verdade a respeito dos anos fatídicos da Ditadura Militar, a democratização dos meios de comunicação de massa e a ampliação dos direitos de setores excluídos da população.

Outro aspecto que revela quão distintos são os projetos de cada uma das coalizões partidárias em disputa é a forma de encaminhar a participação social no desenvolvimento das políticas públicas. Se no governo de FHC não houve completo esvaziamento dos espaços de exercício da democracia direta, como Conselhos e Conferências, estas práticas ficaram restritas a pouquíssimas temáticas.

Durante o governo Lula se buscou ampliar os espaços de democracia direta e de participação da sociedade civil organizada nas políticas públicas. Foram realizadas dezenas de conferencias nacionais, cobrindo quase todos temas de políticas publicas, da saúde à comunicação, da economia solidaria ao desenvolvimento rural, do meio ambiente à problemática urbana. Estas conferencias elaboraram propostas que se transformaram em políticas públicas, sendo inseridas no Plano Plurianual votado pelo Congresso Nacional. Os Conselhos nacionais, que foram criados ou reavivados pelo governo Lula, tem sido um importante espaço de participação da sociedade civil nos rumos do governo e um importante avanço em direção ao orçamento participativo na esfera federal. Desta maneira, tem se caminhado nos últimos anos para a democratização do estado e mediante a abertura de canais de democracia direta.

Fica claro que os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições representam projetos de país consideravelmente diferentes. São as diferenças destes projetos que devem guiar a decisão de cada eleitor, não os seus supostos ou pretensos méritos individuais. Uma eleição presidencial nada tem de parecido com um concurso para a escolha do indivíduo mais apto para "gerenciar" o país. É a ocasião em que os cidadãos têm a oportunidade, que só a democracia oferece, de escolher pelo voto livre a coligação partidária que lhes parece melhor atender aos interesses e aspirações da maioria.

Para que esta escolha seja consciente é essencial que o 2o turno permita que o projeto de país de cada um dos candidatos seja conhecido, esmiuçado e submetido à critica de todos brasileiros politicamente engajados.

Apesar deste debate de projetos ainda não ter ocorrido, as experiências de cada coalizão que disputa este segundo turno, tanto em âmbito federal, comparando os períodos de FHC e de Lula, como as experiências estaduais, nos fazem crer que o projeto representado pela coalizão encabeçada por Dilma Roussef é aquele que representa a maior possibilidade de transformação do Brasil, com desenvolvimento econômico, redistribuição de renda e ampliação e radicalização da democracia.

É justamente Dilma, que por sua trajetória de luta ao longo da vida e papel central que teve no governo Lula, que representa a garantia de continuidade, consolidação e avanço deste projeto iniciado pelo Presidente Lula.

Para assinar este manifesto, envie seus dados (nome completo e RG) para cultura@pt.org.br, com assunto "Manifesto aos Brasileiros e Brasileiras de Marilena Chauí".

1. Paul Singer
2. Marilena Chauí
3. Paulo de Tarso Vannuchi
4. Giorgio Romano
5. Ricardo Musse
6. Glauco Pereira dos Santos
7. Lea Vidigal Medeiros
8. André Singer
9. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos
10. Walmice Nogueira Galvão
11. Reginaldo Moraes
12. Walter Andrade
13. Fabio Sanchez
14. Roberto Marinho Alvez
15. Maurício Sardá
16. Daniela Metello
17. Antonio Haroldo Mendonça
18. Daniel Puglia, professor (FFLCH – USP)
19. Weber Sutti
20. Gustavo Vidigal
21. Mauricio Dantas
22. Roseli Oliveira





domingo, 24 de outubro de 2010

A Soninha Francine é qualificada? (carta a um amigo petista)

Amigo, como vc me disse que não usa nem vai usar o Twitter, mando o endereço da Soninha Francine (aberto a não usuários), que tem se revelado uma comentarista e pesquisadora arguta das mentiras e contradições da campanha da Dilma: http://twitter.com/SoninhaFrancine . Ela tem corrido atrás dos números e constatado que eles não batem com os ofereceidos pela campanha petista.

Sugiro que vc procure lidar com as informações com o espírito aberto, que não procure 'desqualificar' a Soninha, como fez inclusive com o irmão de fé Paulo Evaristo Arns (que vota no Serra pq já trabalhou com FHC, etc...). Lidar com o fato (fenômeno, em ciências humanas) sem preconceitos tem até um nome em filosofia: fenomenologia. Considerar o fenômeno primeiro em si mesmo para depois analisá-lo cotejando-o com a ideologia (ou teoria), e não o contrário (cujo resultado é sempre a desqualificação do outro porque não se enquadra no seu esquema mental). Ex: Paul Singer quando procura definir 'capitalismo' e 'socialismo' em si mesmos e chega à conclusão que o que os distingue nada mais é que a opção pela descentralização, no caso do primeiro, e pela centralização, no caso do segundo. Resumindo, primeiro a busca da verdade (o que é?), pura e simples, depois a interpretação (por que é?) e opção pelo melhor caminho (por que deve ou não deve ser)

Abs

Alexandre


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Correspondência com um amigo petista

Belo comentário do José Dutra ao ato de agressão contra Serra: “Censuramos esse tipo de ação porque entendemos que não contribui para fortalecimento da democracia.” Ora bolas... não só não contribui como coloca em cheque a própria democracia.

O medo à política petista para as comunicações deve-se muito à adesão manifesta a Chavez, que na Venezuela anda perseguindo sistematicamente os jornais que lhe fazem oposição. Nunca vi nenhum petista se posicionar contra isso.

O discurso solidário de Leonardo Boff contrasta muito com o posicionamento petista em relação à repressão aos manifestantes no Irã, com a anuência à repressão à oposição em Cuba, na Venezuela... Se não podemos cobrar praticidade, pelo menos coerência devemos cobrar das utopias.

Belas palavras de Chico no ato dos intelectuais pró-Dilma. Como sempre, aliás. Concordo com a postura, seja lá de quem for, de falar grosso com os poderosos e fino com os humildes. A questão é que isso não pode estar descolado de princípios éticos gerais. Se o poderoso estiver certo, deve ser aplaudido. Se o humilde estiver errado, criticado. E por que? Porque o humilde de hoje muitas vezes é o poderoso de amanhã. E vice-versa. Impérios se erguem e se esvaem. E não esqueçamos que há muitos exemplos de ditadores que vieram das classes humildes, trabalhadoras. A opção pela humildade não pode ser cega. É uma opção correta no Brasil, uma das piores distribuições de renda do mundo, mas não a qualquer preço.

Sobre o fato de o PSDB não ter negros, ponto para o PT. Os próprios tucanos sabem que a falta de enraizamento com os movimentos e associações populares é seu fraco. O psdb é fraco no nordeste por isso, entre outros. Mas, como já disse (e vc também), precisamos considerar vários aspectos em conjunto, hierarquizar valores (já que há vários em disputa), etc, etc... Creio que poucas demonstrações de preocupação com os menos favorecidos e as minorias todas - inclusive as raciais - poderiam ser mais contundentes que a estabilização da moeda com o plano real, por exemplo. Lembremos que isso tirou dinheiro dos bancos. Lembro que foi a partir do plano real que os bancos passaram a cobrar por serviços simples como saque de dinheiro nos caixas, emissão de talão de cheques, etc. Ou seja, contribuiu para melhorar a distribuição de renda, uma boa maneira de se honrar a dívida histórica com os negros. Essa é a diferença entre a utopia e o realismo. Enquanto a utopia humanista defende um socialismo que nunca existiu, o realismo humanista pratica um capitalismo social. Inclusive com privatizações necessárias, como a da telefonia que abriu as comportas do telefone fácil para todos, ricos e pobres, brancos e negros.

No governo Lula os bancos tiveram lucros recordes. Isso mostra que parte da bonança nesses últimos 8 anos deve ser creditada não apenas ao governo, mas à conjuntura internacional pré-crise. E a crise não deixou de atingir o Brasil apenas por ações e políticas de governo, mas principalmente por conta de sermos exportadores de matérias-prima e commodities. Os países exportadores de tecnologia é que sofreram com a crise.

Discurso de Leonardo Boff e Chico Buarque no ato de intelectuais e artis...

É com dor no coração que desta vez, pela primeira vez, eu e Chico Buarque ficaremos de lados opostos. É certo que tenho a boa companhia de outros ilustres brasileiros, defensores intransigentes da honestidade na política, como Marcelo Tas, Soninha Francine e Fernando Gabeira entre ourtos, mas confesso que estar no lado oposto do 'Anjo Gabriel', como bem alcunhou Leonardo Boff, me traz tristeza no coração. De qualquer forma, há momentos na vida em que é preciso optar pelo realismo ao invés da utopia. Ainda mais quando a utopia principia a tornar-se mentirosa e autoritária.

domingo, 17 de outubro de 2010

Leitores digitais obrigam as editoras a se reinventar

Algumas empresas ainda se mostram receosas com a tecnologia.

Com o surgimento do Kindle, o primeiro leitor digital, o mercado começou a acreditar que ler livros em uma tela poderia se tornar um hábito. A venda de e-books nos EUA cresceu 252% este ano.

 
Licença Creative Commons
A obra Alex Muittos de Alexandre de Souza Mattos foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em alexmuittos.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://alexmuittos.blogspot.com.